segunda-feira, 13 de junho de 2011

The sound of music parte final

"Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei
Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar"




       Na praça central da cidade,os transeuntes apressados,diminuiam o ritmo dos passos,até pararem por completo e ficavam embevecidos por aquela música."Ele toca e canta muito bem pra um mendigo",diziam.Alguns achavam seu rosto  vagamente familiar,principalmente aqueles que frequentaram um certo bar ou foram alunos de uma certa escola de música.Não,aquele rapaz maltraplilho,de  cabelos compridos,barbudo,não poderia ser aquele charmoso cantor  ou o inteligente professor que conheceram.Se ele fosse cantor ou professor,não precisaria estar pedindo esmolas,pois,sim,era de esmolas que ele estava vivendo.E dormindo no banco da praça.Mas existiu uma pessoa que reconheceu que o mendigo e o professor-cantor Orfeu eram a mesma pessoa.E não se conformava com isso.Achava que tanta beleza,tanto talento,não poderiam ser  desperdiçados..Por causa de uma garota?Já faziam cinco anos que Eurídice morrera,e ele não conseguiu superar ainda.Parece que entrou numa depressão profunda,largou os empregos e vivia perambulando nas ruas,parecia que tinha ficado louco."Por que enterrar-se vivo por uma garota que está morta,quando existem muitas outras disponíveis e vivas,como eu,mais viva do que nunca!",pensou  Helena,"preciso dar um jeito nisso,preciso ajuda-lo a sair desse buaco em que se enfiou"Depois de varias vezes cruzar com ele na praça,resolveu abordá-lo.
     -Orfeu!Que prazer em revê-lo!
     Ele a encarou,mas não mostrou reconhecimento em seus olhos.Ela percebeu.
     -Lembra?Sou Helena,sua ex-aluna da Escola de Música.Eu morava na mesma rua que a Eurídice morava!
     A menção do nome de Eurídice ainda  doía e provocava uma onda de tristeza nos seus olhos,mesmo depois de todos esses anos.Acabou se lembrando de Helena.Uma lembrança não muito agradável.Lembrava-se dela insinuando-se para ele de maneira descarada,mesmo sabendo que era namorado da amiga.Aliás,até na frente da própria Eurídice,que mesmo percebendo,não deu a mínima,por saber que era a única pra ele."Era não,é"pensou.Percebeu que ela começou a se aproximar dele,e ele instintivamente afastou-se.Não estava a fim de conversar.Cantar era o seu único alento.Mas ela não desistiu.
    -Por que você parou de cantar no bar?E parou de dar aulas?Uma pessoa carismática como você,tão talentoso!Poderia ter uma carreira brilhante!
    Orfeu não tinha nada para responder,ela não entederia que nada mais importava.Em vez disso,começou a tocar "Esquinas" de Djavan novamente,ignorando-a.Ela ficou furiosa.Mesmo nesse estado de penúria e mendicância,ainda assim a rejeitava.Se agarrava aquele violão como um troféu.O violão que ele ganhara de Eurídice,ela conhecia a história.
   -Você precisa reagir,está se enterrando vivo!Que tem que estar enterrada é ela,não você!E não vai conseguir sem ajuda!Tem que se desligar do passado,pensar no futuro!E o primeiro passo é se livrar desse violão velho!Vou te dar um novinho em folha!-e arrancou o instrumento das mãos dele,inesperadamente,e ele não teve tempo de esboçar reação.De repente ele saiu de sua apatia e foi tomado por tal fúria,que ela se assustou.Começou a correr com o violão na mão e Orfeu correu atrás dela.
   -Me devolva isso,ele me pertence!-sua voz parecia um uivo de lobo ferido
   -Querido,é pro seu próprio bem,é o primeiro passo para reiniciar sua vida!-e atravessou correndo a rua.
   Orfeu, tentando alcançá-la  seguiu-a na travessia da rua,sem perceber que estava exatamente na direção do trajeto de um carro em alta velocidade.O motorista freou feito um louco,achando que ele era um bêbado ou doente mental.Mas isso não o impediu de ver o mendigo voando por sobre o capô do carro.
    Após levantar vôo por alguns segundos,Orfeu aterrisou alguns metros adiante."Aquela desgraçada!Aonde ela está?"Levantou-se já ia reiniciar sua perseguição por Helena,quando viu um aglomerado de pessoas.No meio delas,a própria Helena,que chorava,com a cabeça entre as mãos.
   -Me d-d-desculpe,não tive a intenção...
   -Helena,eu estou bem,não precisa chorar.Me entrega o meu violão e não se fala mais nisso.
   Mas ela não parecia escutá-lo.Nem mesmo olhava para ele.Olhava para o chão,na mesma direção em que olhavam as outras pessoas.E ele estupefado,descobriu-se também olhando o seu próprio corpo,estendido no asfalto,com uma enorme poça de sangue ao redor da cabeça."Meu,Deus,o que foi que eu fiz?",pensou,
    -Afastem-se,chegou a ambulância!-diziam as pessoas ao redor.Mas a equipe dos bombeiros chegou apenas para constatar que a morte dele tinha sido instantânea.
     Orfeu ficou desnorteado.Se comportara de maneira insana,atravessando na frente do carro.Não tivera a intenção,mas fora negligente.O anjo tinha dito que o suicídio o afastaria ainda mais de Eurídice.Será que considerariam sua morte como um suicídio?Sentou-se no meio fio,com a cabeça a baixa.
     -Eu estava contando os dias pra esse dia chegar!
     Aquela voz.Ele a reconheceria nem que fosse no meio do inferno.
     -Eurídice!E-e-eu achei que tinha a perdido de novo!
     -Claro que não,meu amor!Venha,vamos para casa!
     -Que casa?Onde?Como?
     -Eu vou te mostrar como-e levantou vôo,carregando Orfeu-Eu não disse que a nossa alma é como uma borboleta que sai do casulo?Está na hora de voar!
     -Mas e o nosso violão?
     -Esqueça!Aonde nós vamos tem todos os instrumentos musicais que você quiser.Mal posso esperar para ouvi você tocar só pra mim novamente...
     -Tem razão,eu também!Mas será que você não vai ficar enjoada?Ficar me ouvindo por toda a enternidade?
     -A eternidade,pra gente agora,é nada mais que um segundo....

domingo, 5 de junho de 2011

The sound of music parte 11

     Repentinamente,todo o recinto aonde eles se encontravam se iluminou.No meio de um facho de luz,uma silhueta foi se delineando,até tornar-se visível a  figura gigantesca de um homem com enormes asas .Orfeu arregalou os olhos.Jetrho fez cara de enfado e deu um suspiro:"Athael...Adora entradas triunfais!..."
    - Saudações,caros irmãos!Tenho boas notícias! -Athael falou com sua voz megafônica-Orfeu,você conseguiu comover a todos nós com seu amor e com sua música.Até os espíritos mais endurecidos amoleceram o coração com a sua dor.Todos fizeram coro ao rogar ao Deus que concedesse o seu pedido.E Deus me ordenou que viesse comunicar a você que sua querida Eurídice poderá voltar ao convívio dos vivos ,na Terra!
    Orfeu caiu de joelhos agradecido aos pés do anjo.Depois levantou-se e fez menção de acordar Eurídice,mas Athael impediu-o.
    -Não faça isso,você não pode acordá-la!Ela não deve vê-lo agora!Jethro deverá conduzir os dois de volta ao seu corpo físico.Somente depois que ela acordar do coma é que deverá revê-lo.
   -Ele tem razão -disse Jethro-Antes de você chegar,ela estava extremamente agitada e em desequilíbrio.O fio da vida que prende o seu espírito ao corpo está muito tênue.Qualquer desarranjo adicional no seu campo energético emocional poderá rompê-lo,e,uma vez rompido,torna-se muito mais difícil reverter o quadro.Ver você aqui poderá ser uma emoção forte demais pra ela.Será mais seguro que vocês se reencontrem apenas acordados no mundo material.
   Combinaram que Orfeu seguiria mais a frente e Euridice iria logo atrás de,maneira que não pudesse vê-lo.Jethro iria entre os dois e ajudaria Euridice no seu despertar em seu corpo novamente.
    -Não se esqueça,Orfeu,em hipótese alguma,olhe ou fale com ela!Deixe que eu cuido de tudo!
    Orfeu caminhava ,olhando para frente,mas podia sentir a presença dela às suas costas.Euridice caminhava como uma sonâmbula,seguindo o espetro luminoso de seu anjo da guarda.Foi então que tudo aconteceu.Orfeu viu o espirito de Rodolfo passar por ele e se dirigir a Eurídice.Parecia torturado e amargurado,como a maioria dos espíritos dos suicidas."Não vou permitir que esse desgraçado a atormente novamente!"
    -Não se aproxime dela!-urrou.Mas ele o ignorou e se aproximou mais,com Orfeu no seu encalço,que o agarrou pelos braços.
    -Eu preciso falar com ela!Eurídice!Me perdoe!Preciso de seu perdão para ter um pouco de paz!
    -Parem!-gritava Jetrho-Orfeu,volte para seu lugar!Eu não disse para deixar tudo comigo?
   Mas era tarde demais,com todo esse tumulto,Euridice acordou de seu transe e viu Orfeu.Nesse momento,não teve olhos para mais ninguém mais.Nem para Rodolfo,nem para o seu anjo da guarda.
    -Orfeu,meu amor!O que faz aqui?Também está no mundo dos mortos?Não,não posso suportar que também tenha morrido,você tinha toda a vida pela frente,foi tudo culpa minha não foi?Por minha causa você está aqui,acabou com a própria vida!Mas só eu mereço a morte e não você!
   Por mais que ele tentasse acalmá-la,ela entrou em tal estado de agitação que ninguém pôde segurá-la.Começou a se debater feito louca e o inevitável aconteceu:seu cordão de prata arrebendou-se e viu-se desligada de seu corpo físico para sempre.No momento em que isso aconteceu,ela foi se afastando, como que  sugada para dentro de um abismo e desapareceu.
   Orfeu gritava desesperado:
   -Nãooooo!Por favor volte!Seu desgraçado,de novo você a destruiu!-e queria avançar sobre Rodolfo.Jethro o impediu.
    -Deixe-o,Orfeu,ele já tem sua cota de sofrimento suficiente para suportar.-disse, enquanto Rodolfo se afastava.-Mas você,por que não confiou em mim?Eu não disse que a protegeria?E não disse que ela não deveria vê-lo?Por causa de sua falta de confiança em mim e em Deus,acabou perdendo-a.
   Orfeu era um poço de desolação.O anjo tinha razão,como ele pôde estragar tudo,depois de estar tão perto de ter a sua amada de volta?Mas ainda haveria outra solução,nada haveria de separá-los."Já que ela vai ficar no mundo dos espíritos,eu também ficarei,também não vou voltar.De que me adianta voltar ao mundo dos vivos,se ela não está presente?"
   -Nem pense nisso,rapaz!-Jethro logo captou seus pensamentos.-Sabe que o suicídio é uma das faltas mais graves contra a lei de Deus.Provavelmente aumentará mais ainda a distância que agora separa vocês dois.Volte para sua vida ,meu filho,e tente viver os anos que te restam da melhor maneira que puder,é tudo o que pode fazer por enquanto...-passou os dedos nos olhos de Orfeu,que se fecharam.Foi a última coisa que Orfeu se lembrou,antes de retornar ao seu corpo físico.Acordou com o barulho de seu telefone tocando.Era Marisa,sua amiga enfermeira,que trabalhava no hospital aonde Euridice estava internada.Ele já sabia o que ela iria dizer.
   -Orfeu,eu sinto muito...A sua namorada teve uma parada cardíaca.Acabou evoluindo para óbito...
   Ele foi escorregando,apoiado pela parede,até cair no chão em posição fetal.

terça-feira, 24 de maio de 2011

The sound of music parte 10

      


            Orfeu foi seguindo o fio que ligava Eurídice ao seu espírito.Estava tão compenetrado que,quando deu por si,tinha atravessado a parede!Do outro lado da parede,onde antes havia o nada,de repente ele viu um outro quarto,muito parecido com o que ela estava.Neste quarto,havia também uma cama,onde o espírito de Eurídice repousava.Parecia que dormia."Meu amor,como você pode dormir assim tranquila,sabendo que estão prestes a desligar os aparelhos que te mantém viva?"Começou a tentar despertá-la,sacudindo-a.
        - Eurídice,acorde! - gritava desesperado - Precisamos fazer alguma coisa,levante daí,volte para seu corpo!Você não pode morrer,por favor! - de repente,sentiu que mãos o seguravam por trás.
       - Por favor,meu irmão,não faça isso!Faz pouco tempo que consegui aquietá-la,deixe-a descansar.Ela estava muito nervosa e agitada!
       Orfeu deu um salto,estupefado.Virou-se para trás e seus olhos encontraram um velhinho muito estranho,baixinho,e de óculos.
       - Quem é você?
       - O anjo da guarda da Eurídice - num tom de que,tipo, você não vê o que é obvio?
       "Mas não se parece em nada com um anjo",pensou.
      - O que você esperava,um garotinho louro de asinhas ?Por favor Orfeu,pensei que você fosse mais evoluído!Nós podemos assumir a forma que quisermos e eu me identifico mais com essa e não com um menino de camisola!
      - E também podem ler pensamentos?Puxa!Então deve saber o que vim fazer aqui.Se você protege mesmo ela,então nos ajude.estão querendo desligar os aparelhos que a mantém viva,você tem que impedir...
      -Meu irmão,você sabe qual é a principal atribuição de um anjo,acima de todas as coisas?
      -Salvar os outros?
     -Não!É cumprir os desígnios de Deus!Está programado no plano de vida dela,que ela volte para o mundo espiritual amanhâ,não há nada que possamos fazer!
     Orfeu sentiu como uma faca gelada enterrando-se em seu peito.A dor transformou-se em revolta.
    - Que espécie de anjo é você?Incapaz de proteger uma pobre moça indefesa,de uma morte precoce e injusta?Você viu como aquele monstro provocou a queda dela?Por que não a impediu de cair? -estava a ponto de pular em cima dele.
    -Como ousa questionar a justiça de Deus?Não fale de coisas que ainda é ignorante demais para entender.Não cabe a mim explicar nada de por que ou para que certas coisas acontecem.Cabe a você descobrir por si.Mas saiba não cai uma folha de uma árvore sem que Deus o permita.E Ele ama Seus filhos,não Os deixa nunca desprotegidos.
    -Mas justo agora que ela estava começando a ser feliz?Você não via como ela vivia amargurada pela culpa e remorso pela morte de irmão,além da dor da doença da mãe,da ausência do pai,da traição do noivo?Agora que ela começava a se abrir para a vida,ela vai ser cortada dessa forma tão abrupta?-ele agora chorava abertamente.Se ajoelhou aos pés do anjo -Por piedade,seu anjo,peça a Deus pelo menos mais alguns anos,só mais um pouquinho,para que eu possa fazê-la feliz.Eu a amo tanto...
    O anjo fez Orfeu levantar-se e segurou o seu rosto.
    - Filho,se quiser realmente falar com Deus,pode falar diretamente com ele,não precisa de intermediários.
   -C-como?Eu nunca o vi,não sei onde ele está.Como posso fazer para encontrá-lo?-ele estava no auge do desespero.
   - Da mesma maneira que os seus outros irmãos na Terra fazem:faça uma oração de coração.O Senhor te ouvirá.Ele ama igualmente a todos nós.Não precisa eu pedir por você.Você pode fazer isso.
   -Quando?Onde?
   -Aqui.E agora.
   Orfeu engoliu em seco.Como argumentar com Deus,a Inteligência suprema?,pensou.Mas Ele também era a Bondade suprema e a Misericórdia também.E isso consolou o seu coração.Ajoelhou -se.E fechou os olhos.
   "Deus.Me perdoe se pude duvidar da perfeita justiça de suas leis.Sei que o Senhor é todo sabedoria e bondade.E eu sou só um pobre ignorante e imperfeito.Não sei o motivo de tais coisas terem acontecido na vida de Eurídice,na verdade,acho que prefiro nem saber.Mesmo assim,peço,Deus,que permita que ela viva mais alguns anos.Mesmo que ela não volte perfeita como ela era antes da queda,eu não me importo.Se a família não quiser cuidar dela,eu cuido.Sabe por que?Eu a amo de todo o meu coração.E sei que ela também me ama e quer ficar  ao meu lado.Sabe,Deus,eu sou músico,o Senhor sabe.Claro que sabe,pois deve ter sido o Senhor que me deu este dom.Às vezes,pareço me expressar melhor cantando.Eu gostaria de poder ter meu violão agora e cantar para ela..." Nesse instante,Jethro,o anjo da guarda de Eurídice lhe estendeu um.Ele pegou no violão e cantou  a música que lhe veio no coração no momento("Pedaço de mim" de Chico Buarque.)
"Oh,pedaço de mim
Oh,metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor"

 
   

quinta-feira, 19 de maio de 2011

The sound of music parte 9



"Meu bem querer
Meu encanto, estou sofrendo tanto
Amor, e o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado pra morrer de amor"



     Orfeu era o retrato da desolação.Sozinho, em seu quarto,dedilhava nas cordas do violão a sua dor.Havia  uma coisa que martelava sem parar em sua cabeça:"Por quê?Por quê?Por quê?".
    Deixou seu  grande amigo de lado e mergulhou a cabeça entre as  mãos.Eurídice já estava em coma há 10 dias.Sofrera traumatismo craniano grave,ela fora operada pela neurocirurgia,para retirar coágulos e pedaços de ossos de seu cérebro.Mas parece que não adiantou muito,pois ela não reagia,estava em coma profundo,não respondia a nenhum estímulo.Amanhã,os médicos iriam se reunir para definir se ela estava ou não em morte cerebral.Em caso positivo,iriam desligar os aparelhos,doar os órgãos.Ele tinha vontade de voar em cima dos médicos,do pai de Eurídice.Se agarrraria ao último fio de vida dela se fosse preciso,mas não permitiria.Tentara falar com o pai dela,mas ele parecia anestesiado,um zumbi.Não estava suportando a idéia de perder um filho mais uma vez.
   Rodolfo fora preso em flagrante.Enquanto os advogados discutiam se o crime era culposo ou doloso,ele se suicidara na prisão.Não suportara a idéia de ser desmascarado."Covarde",pensou Orfeu,"nem capaz de assumir os seus própios atos o infeliz foi!"
   Ele só pôde entrar na UTI poucas vezes e por poucos minutos.Seu coração se sentiu esmagado em mil pedaços ao vê-la naquele estado,toda enfaixada,cheia de tubos e de fios."Justo agora que ela começava a ser feliz de novo!Não tem lógica!"Ele se sentia impotente no grau máximo.Precisava fazer algo antes que fosse tarde demais,mas o quê?Entar de sorrateiro no hospital e sequestrá-la?Iria precisar de uma UTI móvel para carregá-la.Poderia roubar uma,mas teria que levar o médico junto,mas provavelmente ele não iria ser muito cooperativo num caso de duplo sequestro.
   Repentinamente,teve um "insight".Mesmo que carregasse o corpo dela,ela não estaria ali.Ele não acreditava que o espírito se libertava quando as pessoas dormem?Para aonde os espíritos iriam então,quando as pessoas estavam em coma profundo?Provavelmente, em algum mundo intermediário entre o mundo dos vivos e o dos mortos.Precisava encontra-la,mas como?"Primeiro,tenho que me libertar do corpo também",pensou."Mas,de que maneira?Me matando?"perguntou-se."lógico que não,idiota,eu quero trazê-la para o mundo dos vivos,e não arrastá-la ainda mais rápido para o mundo dos mortos!"
   Correu para o computador.Tinha que descobrir uma maneira de deixar o corpo sem morrer.Lógico,poderia dormir e tentar se encontar com ela em sonho,mas e se não sonhasse ?Além do mais,achava muito difícil que conseguisse dormir aquela noite.Pesquisou sobre viagem astral,projeciologia,meditação,mantras indianos,transe.Tentou tudo,mas nada deu certo.Por fim,começou a gritar histericamente e a chorar tanto que no fim as lágrimas secaram e ele praticamente desmaiaou de cansaço.Seus últimos pensamentos antes de perder a consciência foram uma prece ao seu anjo da guarda,um pedido de socorro desesperado.
    Quando recuperou a consciência,ele pode observar, estupefado,que estava contemplando o seu próprio corpo adormecido,e do alto."Meu Deus,estou voando!Eu consegui!Obrigado!Obrigado!"Conseguiu em parte.Ele estava no mundo astral,ou espiritual,mas ainda não encontrara a sua amada.E,como ele pensava,ela não estava naquele box da UTI,como ele pôde constatar assim que chegou no hospital.Com a visão espiritual,ele pôde ver uma linha muito tênue,que saía do corpo de Eurídice."É o cordão de prata!A linha que liga os espíritos ao corpo material!"Fascinado,constatou que era mesmo verdade que ele ainda existia no corpo dela.Eurídice ainda não estava morta,como queriam provar os médicos,pois o seu cordão da vida ainda não tinha se rompido!Precisava agir rápido,tinha que seguir o fio,pois no final dele era onde ela estava!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

The sound of music parte 8

"Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Will you be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven


Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?
I'll find my way
Through night and day
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven"


      No rádio do carro de Eurídice,tocava "Tears in heaven",de Erick Clapton.Eles estavam juntos ,Orfeu dirigia.O porta malas cheio de bagagens,a cabeça cheia de sonhos.Iriam fazer a primeira viagem juntos.Antes,porém,Eurídice iria passar na empresa do pai,para se despedir.Não gostaria de viajar sem falar com ele antes.Orfeu estacionou o carro.
    -Vai levar só alguns minutos.Preciso avisar meu pai.Faz tanto que eu não viajo que ele é capaz de achar que eu fui sequestrada!-saiu do carro sorrindo e entrou pela portaria.
     O escritório do pai ficava no quinto andar.
    -Bom dia,Marta!-cumprimentou a secretária  na antessala do seu pai e entrou direto,sem dar tempo da velha senhora lhe dizer que o seu pai não estava.
    O escritório,porém,não estava vazio.Rodolfo,seu ex-noivo e puxa-saco número 1 de seu pai estava sentado displicentemente na cadeira do patrão,com os pés sobre a mesa.Quando Eurídice entrou,ele levantou-se de súbito,completamente sem graça.
    -Aonde está meu pai?E o que você está fazendo sentado na cadeira dele?
    -Seu pai saiu para uma reunião de negócios.E,quanto a mim,estou treinando para quando eu ocupar este lugar,depois de nos casarmos.-e deu um sorrisinho cínico.
    -Ponha uma coisa na sua cabeça:eu nunca vou me casar com você!Nós não estamos mais juntos,esqueceu?E já faz bastante tempo!
    -Deixe de bobagem,eu sou a pessoa perfeita pra você,e você sabe.Além disso,seu pai também acha o mesmo.
    -Tudo o que o meu pai quer é que eu esteja feliz,foi o que ele me disse ontem.
    -E que melhor maneira de ser feliz do que estar do lado de uma pessoa que te ama de verdade,que daria o mundo para estar ao seu lado?
    -Ama nada!A única pessoa que você ama é a pessoa que você vê quando se olha no espelho!Ama é a possibilidade de se tornar presidente da empresa,casando com a filha do dono!
   -Que mentira!Te amo como nunca amei...
   -Rodolfo,pára com esse teatro!Eu sei de tudo,das suas amantes,de seus encontros pelas minhas costas.Sei até da pobre mulher mãe de seus 2 filhos,que você abandonou!
  -Isso é uma calúnia!
  -Chega,não vou mais discutir!Eu estou com outra pessoa,me deixe em paz,não me aborreça!
   Rodolfo ficou branco de ódio.Num ímpeto,agarrou-a.
   -Não pense que seu pai vai aceitar que se case com aquele professorzinho favelado!Ele não vai permitir nunca!
   Ela lutava para se desvencilhar.
   -Ele já sabe do Orfeu-sua voz saia num esforço-E a minha vida não é mais da sua conta há muito tempo...
    Eurídice conseguiu se soltar parcialmente e ele a puxava por apenas um braço.Ela foi se afastando e fazia força,acabou puxando ele junto e foram parar na varanda do escritório.Nesse momento a porta se abriu de sopetão e o pai de Eurídice entrou.Parou estupefado com a cena.Seu empregado segurando o braço de sua filha,que parecia fazer enorme esforço para se soltar.Nesse ínterim,Rodolfo deu-se conta da sua presença e soltou Eurídice bruscamente.Esta perdeu o equilíbrio,chocando-se com a balaustarda da varanda,que infelizmente quebrou-se com seu peso.O predio era antigo,e a madeira estava enfraquecida pelos anos e pelos cupins.Eurídice voou do quinto andar e aterrissou no pátio,aos pés de Orfeu,que voou desesperado sobre ela.
  


   
  

terça-feira, 3 de maio de 2011

The sound of music - parte 7

"Wise men say, only fools rush in
But I can't help, falling in love with you
Shall I stay? Would it be a sin
If I can't help, falling in love with you?

Like a river flows, surely to the sea,
Darling, so it goes somethings are meant to be.
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help, Falling in love with you

Like a river flows, surely to the sea
Darling so it goes, somethings are meant to be
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help falling in love with you.

For I can't help falling in love with you"  





             Orfeu cantava no violão "Can't help falling in love",sentado no banco do jardim do parque,enquanto olhava Eurídice correr entre as flores,tentando fazer uma borboleta pousar em sua mão.Uma das visões mais lindas que já teve na vida.Os cabelos esvoaçantes,caindo em cascatas douradas por suas costas,com algumas folhas entre eles.Os olhos com um brilho intenso,mostrando que dentro dela a chama da vida ardia intensa."Não,realmente eu não posso evitar de me apaixonar por você".Enquanto ele cantava esse trecho da canção,seus olhos se cruzaram e ela parou.Finalmente ela entendeu o que ele não conseguia dizer com as suas próprias palavras.Caminhou até ele e sorriu.Um borboleta acabara de pousar em sua mão.
         -Algumas pessoas comparam a borboleta a alma humana.Quando morremos,ela se liberta do corpo,como a borboleta se livra do casulo.E aí então ela pode voar pelo infinito.Eu ainda não morri,mas parece que me livrei da couraça que me aprisionava.Sinto que agora ,se não posso sair voando,posso sair saltitando por aí.
       -Que bom,Eurídice,que bom que você escolheu viver!Como dizia  Buda,"A dor é inevitável,mas o sofrimento é opcional".
       -Eu não sei se temos o poder de optar se vamos sofrer ou não diante da dor,mas eu sei agora o que eu quero escolher.Eu escolho você.  - e tascou-lhe um beijo na boca.
       Orfeu ofegou,ela o pegou de surpresaAgora ele é que sentiu as famosas borboletas no estômago.
       Desde então tornaram-se companheiros inseparáveis.Ela sentia uma leveza,uma alegria,que nunca sentira antes.Achava que ao lado dele poderia enfrentar qualquer coisa.Mas não estava preparada para as intempéries que viriam pela frente.
        Nem todo mundo ficou satisfeito com a nova fase da vida de Eurídice.E não demoraria muito para ela ficar sabendo disso...
       
                                                                               

quarta-feira, 6 de abril de 2011

The sound of music capitulo 6

"É como um sol de verão
Queimando no peito
Nasce um novo desejo
Em meu coração
É uma nova canção
Rolando no vento
Sinto a magia do amor
Na palma da mão
É verão!
Bom sinal!
Já é tempo
De abrir o coração
E sonhar..."



   Eurídice levantou-se junto com o sol.Correu para abrir a janela e saudar o astro-rei.Sentia-se leve como uma pluma.Precisava falar com Orfeu imediatamrente,senão seu coração iria explodir,então telefonou para ele.Ele atendeu.Já estava acordado,aprontando-se para ir para a faculdade.Combinou com ele de encontrarem-se no final da tarde,no calçadão,em frente a praia.Ele ficou surpreso de ela querer encontrar-se com ele ao ar livre,pois ela era uma das pessoas mais reclusas que ele conhecia.Achou um bom sinal.
   Eram quase 6 horas quando ele chegou e a encontrou sentada na mureta,olhando para o mar.
   -Desculpe o atraso,peguei um engarrafamento e... -  parou a frase no meio,boquiaberto,ao ver a inédita expressão de felicidade nos olhos dela.
   - Não tem a menor importância.Sinto agora como se tivesse todo o tempo do mundo a disposição na minha frente.Ou melhor,a nossa disposição!
   -O que houve?Conseguiu convercer-se de  que não é culpada de nada?Conseguiu se perdoar?
   -Melhor!Meu irmão me perdoou!Você tinha razão!Tive um sonho maravilhoso com ele!
   -Que fantástico,você conseguiu,então!Conte tudo,como foi?
   -Durante várias noites,antes de adormecer,eu pensava muito nele e pedia em oração que Deus permitisse que nós nos falássemos,pois precisava desesperadamente disso para sentir paz.E de alguma maneira,sentia que ele queria me falar também!Então,numa noite,sonhei que estava  como que num parque,com uma praça central e um jardim todo florido,lindo e multicolorido..Eu estava sentada no banco da praça quando ele chegou.Nos abraçamos,senti uma emoção indescritível.Ele me disse que há muito tempo tem dsesejado conversar comigo.No início,logo depois de sua morte física,ficou durante um tempo muito confuso e desorientado até entender a sua nova situação.Quando conseguiu se equilibrar,ficou muito preocupado ao perceber como nossa família estava sofrendo por causa dele e ele não podia fazer nada.Tentou várias vezes se comunicar conosco,mas era impossível.Todos nós estávamos tão fechados em nossa dor e revolta que qualquer canal de comunicação era impossível.Até você me abrir os olhos.Quando eu consegui me acalmar e abri meu coração para Deus e o entendimento,tudo aconteceu.
    -E o que ele falou?
    -De novo,você estava certo!Ele disse que o tempo dele já havia terminado aqui na Terra.Nada acontece por acaso,era mesmo a hora dele retornar a patria espiritual,sua missão aqui na Terra estava cumprida.A minha ainda não,eu ainda tinha tarefas a cumprir!Não importava o lugar que ele estivesse sentado naquele carro, estava programado que ele iria morrer naquele acidente,naquele dia.Se ele estivesse no banco do carona,provavelmente seria ali que o carro iria bater!Ele disse que o lugar aonde ele está agora é lindo e cheio de paz,e ele está felicíssimo,fazendo tudo o que gosta,estudando e se aperfeiçoando para evoluir cada vez mais espiritualmente.Só o que perturba a paz dele é nos ver infelizes.A nossa conversa aliviou muito o peso no  coração dele.Ele só sente  que papai e mamãe ainda não conseguiram se acertar e seguir em frente as suas vidas.Principalmente a mamãe.Ele tem tentado de todas as maneiras ajudá-la,mas está bem difícil. Ele não perde a esperança,parece que lá tem outros ajudando,como nossos avós,que estão  com ele.
    -Mas isso é maravilhoso!Olhe,apesar de minhas crenças,nada pode ser provado se você esteve realmente com ele ou se foi somente uma criação do seu inconsciente para resolver um conflito profundo!O que importa é que funcionou!
   -Criação do inconsciente?Você deve estar brincando!Eu ainda não terminei tudo!Eu poderia ter criado isso tudo na minha mente,baseado em lembranças da minha memória,mesmo a memória mais remota!Mas como entraram no meu sonho coisas que, tenho certeza, eu ainda não conhecia?Por exemplo,ele mandou meu pai doar todas as coisas dele,as roupas,os brinquedos,que estão intocadas dentro do quarto dele até hoje!E disse pra eu procurar algo dentro da sua escrivaninha,na gaveta da esquerda,dentro de uma caixa de madeira aonde ele colocava suas canetas de desenho, e aonde existe um fundo falso.Ele disse que dentro desse fundo falso estava o seu relógio de ouro ,que ele ganhou do meu pai quando fez 10 anos.Ele mesmo colocou esse fundo falso para escondê-lo,pois tinha medo que ele fosse roubado,e ele não queria guardá-lo no cofre junto com as jóias da mamãe,queria guardar o relógio no quarto dele,para poder pegar nele quando quisesse!Pois acredite,eu fui lá e encontrei o relógio,exatamente onde ele falou.Todos nós achávamos que o relógio havia sido roubado,na época em que a tragédia aconteceu,pois estávamos todos tão transtornados,que algum dos muitos empregados que já trabalharam lá em casa poderia ter se aproveitado do nosso descuido.Eu não fazia a menor idéia daquele esconderijo,ele morria de ciúme das coisas dele,e detestava quando alguém mexia nelas ,principalmente,eu!
    Orfeu ficou chocado com a revelação,mas ele era aquele tipo de pessoa que sempre tinha um lado materialista e cético que brigava com o seu lado que gostaria muito de acreditar na vida após a morte.
     -Realmente inacreditável,mas, ainda assim,existe a possibilidade de você ter sabido desse esconderijo de alguma maneira,mesmo que conscientemente,não lembrasse...
     -Calma aí,ainda falta uma coisa:eu não disse o motivo que fez  ele me mandar pegar o relógio!
     -E foi pra quê?
     -Ele me disse que queria que entregasse a uma pessoa:você!
     -E-e-eu???
     -Isso mesmo,você!Mandou agradecer muito por você ter me ajudado,disse que você não sabe o bem que fez a todos nós.Disse que esse relógio vale um bom dinheiro,talvez uns cinco mil reais,e você está precisando muito...Parece que é um negócio a respeito de uma cirurgia,eu acho,não com você,mas com a sua mãe.Sua mãe está doente?
    Orfeu sentiu como um soco na boca do estômago!Como é que ela poderia saber daquilo?Sim,sua mãe estava sofrendo há mais de 1 ano de cálculos na vesícula,com crises horríveis de dores e inflamações,mas não conseguia fazer a cirurgia de retirada,pois não tinha plano de saúde e os hospitais do SUS estavam sempre adiando a cirurgia,por falta de médico,falta de marterial,falta de luz...Uma tristeza!Ele vivia pensando como gostaria de ter dinheiro para pagar a cirurgia num hospital particular e livrá-la daquele tormento.Por Deus do céu!Seu lado cético acabara de ser nocauteado pelo seu lado espiritualista nesse momento.    

 

terça-feira, 5 de abril de 2011

The soud of music capitulo 5

"Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito...

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."

 
     




    

      Orfeu não sabia se estava mais chocado com a afirmação de Eurídice ,ou com a expressão de dor mais profunda que já presenciou na vida.
      -O que você está dizendo,Eurídice?Como assim o seu irmão morreu no seu lugar?
      -Faz muito tempo...Nós éramos crianças...Mas isso não me exime da culpa,não justifica a minha teimosia de menina mimada -ela fez uma pausa e suspirou fundo- Ele era meu irmão gêmeo,meu único irmão.Um doce de menino.Eu era a levada,a birrenta.Uma vez ,minha mãe foi nos levar de carro para uma festinha.Nós tinhamos 10 anos.Ele ia no banco da frente e eu atrás.Quando estávamos quase chegando,eu o fiz trocar de lugar comigo,pois queria parecer adulta na frente das minhas colegas,e não uma criancinha que só podia ir no banco de trás.Ele não queria,mas eu insisti tanto que ele cedeu,e trocou de lugar comigo,com o carro em movimento.Mal ele se sentou,um motorista bêbado avançou o sinal vermelho num cruzamento,acertadndo nosso carro em cheio na parte traseira,esmagando-a contra um caminhão.Somente ele morreu,nós sobrevivemos para lembrar dessa cena horrível.
    -Minha querida,você não teve culpa nenhuma,como você poderia saber?
    -Ele era o filho perfeito,obediente,calmo,bom aluno.Mesmo que eles não admitam,meus pais preferiam que eu tivesse morrido,não ele.Minha mãe caiu em depressão profunda,e até hoje,alterna períodos de internação em clínicas psiquiátricas e clínicas de desentoxicação para viciados em anagésicos e calmantes.Meu pai,se enfurnou do escritório.Só pensa em trabalhar sem parar.Eu quase não os vejo.e acho que elas não desejam mesmo me ver,não me suportam.Eu lembro a eles o que eles perderam.É como eles tivessem morrido também.Sabe o que ele quer fazer comigo agora?Quer se livrar o mais rápido possível da minha presença,me casando com o seu funcionário puxa-saco número um,Rodolfo,meu ex-noivo.
    -Você era noiva?
    -Tenho bons motivos para tê-lo transformado em ex.Ele é um mau caráter interesseiro,que só sabe pensar em si mesmo.Tentei mostar a verdade para o meu pai,mas ele está tão cego pela vontade de me descartar,que não consegue ver mais nada.O pior é que não tenho provas concretas,mas tenho certeza absoluta que o amor que o Rodolfo diz que sente por mim é  pura falsidade e interesse.Meu pai vive armando situações que me façam encontara com ele,mas não adianta.Durante algum tempo ele conseguiu me enganar,ams agoara,não mais!
    -Eurídice,em primeiro lugar,vou dizer o que eu acho,baseado no que eu acredito.Apesar de não ter nenhuma religião,cheguei a algumas conclusões baseadas em coisas que eu li e vivenciei.Em primeiro lugar,acredito que a vida não termina com a morte do corpo físico.A alma é imortal.E que todos nós temos que cumprir algum tipo de aprendizado aqui naTerra,e para depois voltar a verdadeira vida,que é a vida  espiritual.Quando esse aprendizado termina,é a hora de retornar.Só Deus sabe quando é a hora,nós não temos esse poder.Se realmente fosse a sua hora de ir ,você teria ido e não ele.Ele foi porque o tempo dele terminou e o seu não.
   -Não é verdade...Se eu não tivesse feito ele mudar de lugar...Não consigo deixar de me lembrar de como fui chata e persistente...Anos de terapia e remédios não conseguem fazer eu me perdoar.Como eu gostaria de pedir perdão a ele...
   -E por que não pede?
   -Eu já pedi milhares de vezes,mas como vou saber se me perdoou?Ele não está aqui para responder,pra eu olhar nos seus olhos!Eu não o perdoaria,se estivesse no lugar dele.
   -Espere!Talvez você consiga ir aonde ele está.
   -Ah,não me diga para ir numa sessão espírita!Tenho pavor dessas coisas!
   -Não,não precisa fazer isso!Olhe,eu já li que quando sonhamos,nosso espírito pode viajar e encontrar com os entes queridos já falecidos.Já ouvi falar de muitas histórias de pessoas que se encontararam com parentes, conversaram,discutiram,até resolveram pendências de família!Olhe,e se você olhar pelo lado psicanbalítico da coisa,pode haver uma explicação científica apara isso.Freud disse que todo sonho é a realização de um desejo.Pode ser que esses sonhos sejam na realidade fabricados pelo nosso inconsciente.Mas mesmo que seja,é no inconsciente que resolvemos os nossos maiores conflitos,talvez isso seja bom de qualquer jeito para você!
    -Bem que eu gostaria de sonhar com ele!Sonhei algumas vezes com ele,mas foram sonhos confusos,angustiantes.Depois os sonhos desapareceram.Como eu faria para sonhar de novo?Não temos como controlar isso!
   -É muito simples:peça!Antes de dormir,faça uma oração.Nada acontece sem o consentimento de Deus.Peça com fervor,com sinceridade.Se for da vontade de Deus,ele permitirá.
    -Depois de tanta desgraça que aconteceu na minha vida,fiquei meio cética.Mas estou tão desesperada ,há anos que parece que todo o peso do mundo nas minhas costas!Estou apelando pra qualquer coisa!
    -Desse jeito,não vai dar certo.Você vai ter que reencontrar a sua fé e restabelecer de novo o seu contato com Deus.Agora eu preciso ir-deu um beijo na testa e secou com os dedos as suas lágrimas.
    Deixou Eurídice imersa em seus pensamentos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

The sound of music - capítulo 4

"Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome prá poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz"

 





   Orfeu achou que a casa dela parecia um castelo,e ela bem poderia ser uma princesa solitária no alto da torre.Coincidência ou não,o quarto dela era lá no alto,no último andar conforme o empregado que o recebeu no suntuoso hall de entrada indicou para ele."Ela vai ter aulas no quarto?",pensou ele,e achou meio inadequado.Mas quando chegou,percebeu que o quarto dela tinha uma antessala,como se fosse um pequeno escritório particularQue chique!.Ela ainda não estava,mas mandaram que aguardasse.Eram mais de nove horas da noite.Ele só podia chegar nesse horário,após as aulas que dava na Escola de Múcica,mas ela parecia não se importar.Ele deu uma espiada.Havia uma estante,cheia de livros e fotos.Algumas fotos na parede,uma escrivaninha e duas poltronas.Entre as poltronas,uma pequena mesinha com um porta retratos.Não resistiu e pegou-o para examinar melhor.Havia uma menina loura de cabelos cacheados,um menino,também louro,mais ou menos da mesma idade,muito parecido com ela,com o mesmo sorriso luminoso.Colocou rapidamente de volta na mesa,quando ouviu passos se aproximando.Ela saiu pela porta interna,vinda do quarto.
    -Oi,desculpe-me fazê-lo esperar-ela tinha um violão nas mãos.
    -Oi!Não se preocupe,acabei de chegar.Vejo que comprou seu violão.
    -Pois é,você gostou?Essa marca é boa?
    -É ótima,uma das melhores-"Deve ter custado o equivalente a  uns dois meses de salário meu",pensou ele.-Vou afinar ele para você.
     Ele começou a afina-lo e ela o olhava,fascinada.Para testar a afinação,ele dedilhou algumas músicas.Depois de pronto, entregou-lhe de volta.
     -Ah,por favor,toque mais um pouco...
     -Mas eu pensei que era pra você tocar,não eu.
    -Claro,claro,desculpe-respondeu,sem graça-Mas,gostaria muito de saber como aprendeu a tocar assim tão bem.
     -Bem,na verdade,aprendi por erros e acertos,sozinho,dando cabeçadas e desafinadas por aí.
     -Nossa!Um autodidata,um talento nato!
     -Nem tanto,nem tanto.Foi só no início.Depois entrei pra faculdade e me aprimorei.Ainda estou me formando,na faculdade de música.Então,vamos começar?
      Eurídice bem que tentou,mas não tinha o menor jeito.Suas notas saíam pior que uma unha raspando num quadro negro.Era de arrepiar,no sentido ruim.Orfeu procurava estimulá-la,mas ,com o passar das aulas e tentativas,as pontas dos dedos dela começaram a ficar machucadas e doloridas.Na verdade,ela estava detestando as aulas,mas,amando o professor.Um dia,ele chegou sem o violão dele.
      -Cadê o seu violão?
      -Fui assaltado no ônibus.Mas,não tem problema,a gente pode fazer a aula só com o seu.
      No final da aula,Eurídice deu o seu violão para ele.Ele não quis aceitar de jeito nenhum.
      -Aquele violão estava velho mesmo,eu já ia comprar outro.
      -Mas você disse que esse aqui é muito bom,uma das melhores marcas.é uma pena ficar sem uso.
      -Como assim,sem uso?Você não vai mais usá-lo?Posso saber por que?
      Eurídice olhou para baixo,embaraçada.
      -Estou desistindo de tenta tocar.Meus dedos estão doendo e todos machucados.E ,além do mais,nós dois sabemos que eu não tenho o menor talento...
      -Mas isso pode ser trabalhado,você sabe...
      -Não,eu achei que,como gosto muito de música,talvez pudesse me encontrar em uma carreira musical.Mas, tudo que encontrei foi uma trapalhona descoordenada e desafinada..Mas isso não é novidade para mim,eu já tentei tantas coisas,tantas carreiras,tantas faculdades.Nada deu certo.Acho que não presto pra nada mesmo...
       Orfeu não sabia se sentia tristeza,por ver uma moça tão linda e inteligente  falar de si mesma com tanto desalento,ou se sentia alegria por ela deixar de ser sua aluna.Afinal,isso diminuiria a distância entre eles,talvez se abrisse um caminho para uma relação mais próxima."Não seja imbecil!Até parece que ela ia querer alguma coisa com um feio,desajeitado e pé-rapado como você!Além do mais ela está desistindo das aulas,não existe mais motivo para continuar a vê-la!Ela está te dispensando,e o violão é o prêmio de consolação!"
       -Então,está bem-ele disse-eu vou indo então.Eu aceito o seu violão,emprestado.Até eu comprar um novo,está,bem?Vou mandá-lo de volta,assim que puder,eu deixo na portaria da sua casa.
       -Eu já disse que não quero o violão de volta.Mas não quero que você vá embora.Descobri que o que mais gostava nas aulas,era ouvir você cantando.Você não poderia vir apenas para cantar para mim?Eu continuo pagando,como se fosse uma aula!
      -Eurídice,mas isso é um absurdo!
      -Eu pago em dobro!A sua música me fez mais alegre que todos os anos de terapia e todos os quilos de antidepressivo que eu já tomei na vida!
      -Não posso aceitar.
      Ela baixou os olhos,que pareciam sintetizar toda a tristeza do mundo.Orfeu levantou o seu rosto,tocando o seu queixo com a ponta dos dedos,e disse:
      -Não existe nada no mundo que eu deseje mais do que tocar e cantar´para você ,e ver você suspirar e sua face se iluminar.Mas não como um empregado.Se você me pedisse para continuar vindo,como um amigo,eu o faria com o maior prazer.
      -Jura?Quer ser meu amigo?Não acredito!Você vai acabar sumindo,como todos os outros!Ninguém aguenta ser meu amigo por muito tempo!Todos me acham chata,nerd,antipática,soturna...Quando era adolescente,meu apelido era Wandinha da família Adams-ela falava em tom de sarcasmo,mas ele podia sentir uma mágoa profunda.
      -Ei,ei,o que é isso?Não acredito que exista uma pessoa no mundo que não deseje fazer parte da sua vida!
       -Você não sabe o está falando|Tudo na minha vida é um erro!-agoara chorava abertamente-Nada nunca deu e nem vai dar certo.E sabe o motivo?Eu não devia estar aqui,eu estou no lugar de outra pessoa,que morreu no meu lugar!Era ele que os meus pais queriam que estivesse vivo,não eu!
      -Ele quem?
      Ela pegou o retrato sobre a mesinha e apontou,com os dedos trêmulos:
      -Ele!Este aqui,o meu irmão!


                                                        (continua...)
       
      -



domingo, 3 de abril de 2011

The sound of music - capitulo 3

"Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás"

                                                                                                                        
 

        Orfeu não sabia por que começou a cantar essa música.Não estava na lista de pedidos  dos frequentadores do bar naquela noite.Ok,no fundo ele sabia muito bem.Foi por causa daquela moça de olhar triste que tinha entrado há cerca de meia hora.Que criatura intrigante.Ao mesmo tempo que tinha um porte altivo,quase orgulhoso,sua expressão mostrava justamente o contrário.Parecia deslocada ali.E ele tinha impressão que se sentia deslocada aonde quer que estivesse.Vestia-se de maneira simples e discreta,um vestido azul,que fazia lindo contraste com seus cabelos muito loiros.Por isso lembrou da música:"choque entre o azul e o cacho de acácias...".Ela se sentou próxima ao palco,e ele pode ver que ela era loira de verdade,pois as sombrancelhas e até os cílios eram loiros.A pele clara era quase translúcida,coberta por delicadas sardas transparentes.Mesmo se fosse um pintor talentoso,não se acharia capaz de pintá-la em toda sua beleza.A cor dos olhos era difícil de definir,pois estavam semicerrados,e ela parecia pensativa.Em que estaria pensando?
        Talvez ele se surpreendesse ao saber quais eram os pensamentos de Eurídice.Ela se sentia tão feliz e relaxada, como nunca esteve na vida.Ali,olhando para aquele rapaz com cabelos escuros caindo sobre a testa,e voz de veludo.Não se sentia sobrando,como sempre,mas no lugar certo,na hora certa.Seu coração parecia ter criado asas e viajava na sua música.Mal se deu conta de que as pessoas já estavam se retirando,e o show já terminara.Era dia de semana e tinham que trabalhar amanhã de manhã cedo.Acordou como de um sonho dourado e caiu na escura realidade.Gostaria de ter um trabalho,algum lugar para ir no dia seguinte,uma desculpa para não estar em casa.Mas não adiantava,ela não se encaixava em nada,nenhum trabalho,nenhuma faculdade,nada tinha dado certo pra ela.Algumas vezes chegou a pensar que teria sido melhor que ela nunca houvesse existido.Todos teriam sido mais felizes.Seu irmão não teria morrido.
      Orfeu estava guardando as suas coisas e estava  a ponto de ir despertá-la.Achou que ela tivesse adormecido.Mas ela levantou-se subitamente e fez menção de ir embora.Quando chegou perto da porta,pareceu ter se arrependido e voltou.
      -Não posso deixar de vir cumprimentar um artista tão talentoso-disse ela cumprimentando-o.Estendeu a mão e ele apertou-a.Foi sacudida por uma estranha sensação.A sensação de uma pessoa que andou muito,por muito tempo , esteve por diversos lugares  e, finalmente ,chegou em casa.Soltou a mão rapidamente.-Dizem que se reconhece um grande cantor quando ,para cada pessoa que o está ouvindo,existe a sensação de ele está cantando especialmente pra ela.
     "Você não sabe o quanto está perto da verdade",pensou ele.Mas tudo que ele pôde dizer foi um tímido"Obrigado".Estava tomando coragem para cortejá-la,quando ela disse:
     -Na verdade,eu estive na escola de música hoje.Queria me inscrever na suas aulas,mas a moça da secretaria me disse que tinha que falar com você primeiro.Eu iria falar com você amanhã,mas já que estou aqui...
      "Droga-pensou Orfeu-não quero que você seja minha aluna!"Tinha por princípio não se envolver com alunas,pois já tida tido experiências que não deram certo,não queria mais misturar as coisas.
       -Qual é o seu nome?
       -Eurídice.
       -Querida Euridice,ela deve ter dito a você que as turmas já estão lotadas.O excesso de alunos atrapalha a didática da coisa,entende?E não posso abrir exceções,você sabe,senão vou ter que fazer isso com as outras pessoas também.
       Ele pareceu sentir uma faca gelada se enfiando no seu coração, por ter provocado aquela expressão de decepeção profunda no rosto de anjo dela.Chegou a achar que os olhos dela encheram-se de lágrimas."Eu sou mesmo um monstro!Dane-se essa droga de didática e o que os outros vão dizer!"Ia abrir a boca dizendo que mudou de idéia,mas ela falou antes:
     -E aulas particulares?E-e-eu posso pagar.Posso ir na sua casa ou você ir na minha.Por favor?
     Ir na casa dele?Acho que ela não sabia o que estava dizendo.A casa dele era tão superlotada,que ninguém conseguia respirar fundo ao mesmo tempo.Eram ele,a mãe e cinco irmãos numa casa de 3 cômodos.
     -Bem,eu não tenho muito horario disponível. e na minha casa não vai ser possível,teria que ser na sua.E  eu só posso á noite...deixe ver...Segunda e quarta,pode ser?
     -Claro,pra mim,está perfeito!!Vou te dar meu endereço,podemos começar nessa segundo agora?
     -Mas você não vai me perguntar quanto é que eu cobro por aula?E violão,você tem algum?
     -No dia da aula você me diz o preço!E ,quanto ao violão,vou comprar um amanhã mesmo.-entregou-lhe o bilhete com o seu endereço e telefone-Você não sabe como alegrou o meu coração! -  e deu-lhe um beijo estalado no rosto,saindo saltitante pela porta.
     O coração de Orfeu saiu da temperatura da faca gelada para a temperatura da ebuliçao.Do aço.Ele pôde ver perfeitamente a cor dos seus olhos quando ela se aproximou para beijá-lo.Eram dourados como o sol.Respirou fundo e olhou o seu endereço.Não era a toa que não se preocupava com o preço das aulas.Dinheiro não devia ser problema para ela.Era numa das ruas onde moravam as pessoas mais ricas da cidade.
                                     (continua)

quarta-feira, 30 de março de 2011

The sound of music capitulo 2

                                        "Saying 'I Love you'
                                        Is not the words I want to hear from you
                                        It's not that I want you not to say
                                        But if you only knew
                                        How easy it would be to show me how you feel

                                        More than words
                                        Is all you have to do to make it real
                                        Then you wouldn't have to say
                                        That you love me 'cause I'd already know

                                        What would you do if my heart was torn in two?
                                        More than words to show you feel
                                        That your love for me is real"



     -Ah,por favor,Orfeu,canta de novo!
     -Só mais uma,a última,professor!
    -Queridos,eu adoraria cantar mais uma,mas não posso!Senão vou chegar atrasado para cantar lá no barzinho.E meu chefe me desconta cada minuto.-então,Orfeu começou a guardar o violão na capa.
    Euridice estava assistindo tudo escondida num canto da sala.Tinha ido conhecer a escola de música e estava visitando as salas,apenas dando uma olhadela pelas portas.Mas,quando começou a ouvir aquela música,uma de suas preferidas,sentiu-se atraida como um imã.O rapaz que cantava,tinha a voz suave,aveludada,como uma carícia.Além de tudo,cantava com toda emoção de seu coração,o que fazia o ouvinte se emocionar também,e viajar na música.Ela percebeu que não só os alunos faziam platéia ao jovem professor.Também o pessoal da limpeza e o da secretaria tinha largado os afazeres para se embeber de música.Orfeu passou apressado por Euridice,e saiu pela porta,carregando o violão e o casaco para a noite fria que caía.Olhando assim,parecia um rapaz comum,como qualquer outro,tímido e retraido.Mas quando ele estava cantando,ele se transformava,e ela pôde ver a tranformação.Ele ficava como que iluminado, e hipnotizador.Seus olhos brilhavam,parecia um Deus da Música.Ninguém conseguia parar de olhá-lo e de ouvi-lo,enquanto não terminasse.
    E aquela música ,"More than Words", significava muito para ela.Ela estava cansada de falsidade.Gente que falava de uma forma e agia de outra.Era preciso mais do que palavras para demonstrar(e provar) o amor.
    Voltou a secretaria para se matricular .Já estava decidido.Iria se inscrever no curso de violão.Parecia que tinha desejado aprender a tocar  violão desde criancinha.A secretaria estava vazia,os funcionários ainda estavam retornando aos seu afazeres de depois da maravilhosa audição gratuita do professor Orfeu.
   -Eu fico esperando o dia inteiro por esse momento...-dizia uma funcionária.
   -Eu relaxo dos estresses no final do dia com a música do Orfeu.-dizia outra.
   -Até da dor de cabeça eu melhorei-disse a faxineira.
   Entraram na secretaria e deram de cara com Euridice..Ficaram sem graça pela escapada momentânea  do trabalho.
   -Pois não,deseja alguma coisa?
   -Quero me matricular no curso de violão.
   -Claro,querida.Tem preferência de horário?
   -Eu quero participar dessa turma que acabou de terminar agora.O nome do professor é ...Orfeu,não é?
   -Ah,me desculpe,mas essa turma já está lotada.
   -Que outro horário eu posso ter aula com ele?
   -Infelizmente,todas as turmas do professor Orfeu estão completas.Suas aulas são muito disputadas.Mas temos diversos outros professores e horários,você pode escolher...
   -Não!Tem que ser com ele.Vocês não podem me encaixar?Afinal uma aluna a mais ou a menos numa turma,que diferença faz?
   -Muita,principalmente ao Orfeu.Ele não gosta de turmas grandes,gosta de se dedicar de forma integral e individual aos estudantes,o que fica mais difícil com turmas grandes.Já foi difícil fazê-lo aceitar 10 alunos por turma.Impossível.
   -É parece que vai ser impossível é me matricular nessa escola.Foi um prazer conhecê-las,senhoras.-e começou a ir embora.
   -Espere,espere!-a moça chamou,desesperada.Parece que ela ganhava gratificação por cada matrícula nova feita por ela-Você pode vir conversar com ele;se ele permitir,tudo bem.Você pode vir no final da aula de amanhã,nesse mesmo horário?
  -Mas é claro!
  -Caso decida realmente se matricular,não esqueça de vir fazer a inscrição comigo,hein?Nereida é o meu meu nome,meu bem.
  -Claro,claro.
  Euridice saiu da Escola de Música quando já eram quase 7 horas da noite."Droga ainda é muito cedo.Preciso ficar fazendo hora até pelo menos  10 horas. da noite.Hum...idéia!"Voltou à secretaria.
 -Por favor,qual é mesmo  o nome do bar aonde o professor Orfeu canta?
                                                                             (continua...)

terça-feira, 29 de março de 2011

The sound of music- capitulo 1

                                              " The hills are alive with the sound of music
                                               With songs they have sung for a thousand years
                                               The hills fill my heart with the sound of music

                                               My heart wants to sing every song it hears
                                               My heart wants to beat like the wings of the birds
                                               That rise from the lake to the trees

                                               My heart wants to sigh like a chime
                                               That flies from a church on a breeze..."
                                                                                                                                                                               


         





        -Assistindo "A noviça rebelde" de novo,Eurídice?-disse Romilda,a empregada entrando   no  
 quarto com uma bandeja.
        Euridice espreguiçou-se no sofá.
        -Toda vez que estou deprimida ,eu vejo esse filme.A história,as músicas e as paisagens são tão lindas,que me sinto mais leve,mais feliz.,
       -Ah,deixa disso!Como é que uma menina linda,inteligente e rica como você vai precisar de filme pra ficar feliz!Você tem tudo,menina,deixa de bobagem.
       Euridice olhou para ela com um olhar que dizia "não estou a fim de discutir,você sabe muito bem porque eu digo essas coisas".Romilda,que praticamente criou a menina,sabia muito bem entender seus olhares e conversas sem palavras.Resolveu tentar outra estratégia:
      -Tudo bem,então.Mas você não contribui em nada para mudar essa situação, enfiada dentro deste quarto.Credo,parece um túmulo!Em primeiro lugar,abra essas cortinas,deixe arejar isso!Segundo,vá dar um passeio,está um dia lindo lá fora.
     -Eu não tenho nada pra fazer lá  fora.Além de tudo,o filme mal começou.
     A empregada não desistiu e foi desligando a TV.
    -Você já viu isso umas 20 vezes,sabe todas as falas e musicas de cor!Ah,falando nisso,já que a música te alegra tanto,por que não tenta aprender a cantar ou a tocar um instrumento musical?Sabia que perto daqui abriu uma escola de música? A Helena, filha da patroa da Maria das Dores está estudando violão lá,disse que  está adorando!Vá dar um pulo lá e dê uma olhada nos cursos,tenho certeza que te fará bem!
  -Romilda,você é uma chata e estraga prazeres.Eu não vou a lugar nenhum!
  -Tem certeza?E se eu disser que eu ouvi seu pai combinar no telefone que o seu Rodolfo vem  aqui em casa agora a tarde? E vai ficar pro jantar...(não que eu fique escutando conversa alheia,foi por acaso,você sabe...
  -Sei,sei muito bem...Ainda bem que o acaso está sempre a seu favor!E,nesse caso,ao meu também!!Você sabe ser convincente!Já estou indo!Se alguém perguntar por mim,diga que fui lá na esquina me matar e já volto...
   -Não brinca com essas coisas,menina!
   -Deixa de ser boba!Você sabe que eu nunca me mataria!Seria bom demais pro meu pai se livrar de mim assim tão fácil,eu não daria esse presente a ele!
   -Agora você passou dos limites!Não fale assim do seu pai,você sabe o quanto ele te ama!
   -Me ama tanto que quer me entregar de bandeja para aquele mala-sem-alça e mau-caraterdo Rodolfo!Mas chega dessa discussão sem sentido.Fui!

                                                    (continua ....)

domingo, 27 de março de 2011

Era uma vez no Olimpo parte V

    A descida do Monte Olimpo era muito íngreme.Eu corria para baixo desabaladamente,sem o  menor equílíbrio,tropeçando em meus próprios pés.O desgraçado do cachorro era muito mais rápido ,não teve a menor dificuldade para me alcançar.Logo,eu estava cara a cara com a fera,as tres cabeças me encarando,e eu não sabia qual delas parecia mais furiosa.
  -C-cahorrinho bonzinho,não vai me fazer mal, não é?Eu sei que no fundo todos os cachorros são bons!-eu dava um passo para trás ele dava dois para frente,até que ele me encurralou contra uma árvore.Nunca fui boa em subir em árvores quando era criança,mas de repente surgiu uma subita habilidade,estimulada pelo medo extremo.Quando ele se inclinou nas patas traseiras para saltar sobre mim,comecei a escalar o tronco e alcancei o topo em menos de 1 minuto.Quando ele aterrissou do salto,encontrou o tronco vazio e deu  com a cara,melhor dizendo, as caras,na madeira dura da árvore.Lá de cima fiquei ouvindo os seus latidos cada vez mais raivosos.Ele ficava dando enormes saltos tentando me alcançar."Graças a Deus,ele não tem asas",pensei,com alívio.Mas meu alívio durou pouco.Uma outra criatura,essa sim com um par de imensas asas ,veio voando na minha direção com cara de poucos amigos."Será que Júpiter resolveu garantir que eu fosse pega pelo ar também?"Era uma Harpia,uma ave repelente com cabeça de mulher ,garras afiadas e rosto pálido de fome.Ela avançou em cima de mim,eu me levantei e tentei me livrar dela com braços, lutando,mas perdi o equilíbrio e me estatelei no chão.Sem perder tempo de olhar para aquele que me esperava lá embaixo,levantei-me e ia iniciar nova fuga desesperada.Mal tive tempo de dar tres passos e o cachorro me atacou pelas costas,derrubando-me.Senti   o calor da respiração saindo pelos 3 focinhos  no meu pescoço e fiquei pensando qual deles iria me morder primeiro.Fechei os olhos com força,esperando as primeiras dentadas.Qual não foi minha surpresa,quando senti um monte de lambidas no meu pescoço,no rosto,nas orelhas.Abri os olhos.
    Estava debruçada na minha escrivaninha,no meu quarto,com a cabeça apoiada no teclado do computador.Em pé,apoiado nas minha costas,me lambendo sem parar,estava o meu labrador,Goodboy,todo saltitante.
   Levantei sobressaltada,ainda esfregandos os olhos,confusa.
  -Sai,Goodboy.fora daqui!Meu Deus,estou em casa de novo!Foi o sonho mais doido que já tive!Já amanheceu o dia!Estou encrencada,dormi fazendo o trabalho de história e não terminei.É melhor me conformar em levar bomba no boletim.Melhor que ser comida por um cão enorme de 3 cabeças.
  Comecei a me arrumar para ir para aula,já me preparando para a bronca que iria levar do professor Alcides."É preciso aprender a ter responsabilidade,honrar os prazos ,compromissos. Alguém que entrega um trabalho atrasado jamais vai ter uma nota igual a quem entregou pontualmente".Já imaginava o que ele ia me dizer. 
   -Até parece-resmunguei comigo mesma - mesmo que a gente entregue  na data certa,o máximo que ele dá é um 8!Nove,ele dá só para ele mesmo!E dez só pra Deus,com certeza.
   Nisso toca o telefone.Estranhei uma ligação tão cedo`as 6 e meia da manhã.Minha mãe atendeu na sala,mas não pude ouvir sua conversa.Minutos depois,entrou no meu quarto.
   -Filha,pode dormir mais um pouco,não vai haver aula hoje,acabaram de ligar da escola avisando.
   -Não vai ter escola hoje?Por quê?-fiquei boquiaberta.
   -Parece que caiu um raio e incendiou  um poste,justamente o que fornece energia elétrica para a escola,que está às escuras e quase sem água,já que a bomba que joga água para a caixa d'água,também precisa de eletricidade para funcionar.Eles estão ligando para casa de todos os alunos,para avisar.
   -Que pena-respondi,falsamente.Intimamente,pensei:"Estou salva!A próxima aula dele é só na semana que vem,o que me dá mais alguns dias para fazer o trabalho com calma"
   -Mas,tem uma coisa estranha que a funcionária da secretaria da escola me falou.
   -Que coisa estranha,mãe?-fiquei de orelha em pé.
   -Não havia nenhuma tempestade,nem ao menos estava caindo uma chuva fina.Não havia nuvens negras no céu,que estava limpíssimo.O raio veio do nada,e atingiu apenas a fiação da escola,depois não aconteceu mais nenhum raio.Parece até que caiu especialmente para  causar essa pane.
   Sorri internamente.Será que os Deuses finalmente resolveram me ajudar?
   "Obrigada,Juno"elevei o meu pensamento ao Olimpo."Prometo que vou caprichar no trabalalho,não vou decepcioná-la"
   Enquanto isso,no palácio dos Deuses...
  -Junooooo!!!!!!!!!Você andou roubando meus raios de novo?-gritou uma voz furiosa.
  Lá embaixou,nesse mesmo momento,os céus e a Terra estremeceram com um violento trovão.
                                                         (FIM)

Era uma vez no Olimpo parte IV

     Fiquei mais branca que as túnicas dos Deuses que me encaravam.Nunca fui boa em mentir,então,ainda mais para essas criaturas que podem ler nossa mente.
    -Calma,por favor,foi apenas  uma meia-mentira.Eu queria realmente uma entrevista de vocês.Só que não sou de nenhuma revista.É para uma pesquisa da escola.Eu precisava desesperadamente de uma boa nota em História.Quando a senhora se dispôs a conversar comigo pensando que eu  era uma repórter de celebridades,eu simplesmente não neguei,para não perder uma oportunidade tão valiosa.
   -Para conseguir o que queria, me fez de idiota ,não é?Se aproveitou de minha fraqueza!Sua...sua...Querido,fulmine-a imediatamente com um raio!Mas primeiro leve ela lá pra fora,não quero sujar o tapete!
   Me escondi atrás do seu trono,tremendo de medo.Tinha que pensar rápido,antes de virar churrasquinho super bem passado.
  -Pensem bem, ser tema de um trabalho na escola pode ser melhor do que de uma dessas revistas idiotas de celebridade!Só pessoas vazias e fúteis lêem elas.A notícia que elas lêem hoje,amanhã estará forrando o chão do banheiro delas.Logo elas estarão preocupadas com a próxima fofoca e esquecem completamente o que leram.
  Jupiter e Juno se entreolharam,enquanto tentavam me cercar.
  -Não é bem melhor que eu fale de vocês numa classe de estudantes,de jovens que são o futuro da humanidade?Prometo escrever um trabalho tão  perfeito,falar de vocês com tanta admiração,que não vão esquecer pelo resto de suas vidas,e vão falar do que aprenderam  com seus amigos e familiares,divulgando a existência de divindades tão magnânimas e poderosas como vocês.
  Juno foi mordida pelo bichinho da vaidade novamente:
  -Querido,talvez ela tenha razão.Talvez semeando a nossa cultura nas jovens mentes em formação,teremos mais chance de recuperar nossa antiga glória.A mente dos adultos já está irremediavelmente deturpada,preocupando-se apenas em obter dinheiro,status,poder!Está difícil pra quanquer divindade entrar no coração deles,não só pra nós aqui do Olimpo.Já no coração dos jovens,teremos mais chance.
  -Juno,lá vem você de novo!Não me interessa com quem ela vai falar sobre nós!Ela infrigiu duplamente as regras.Veio sem ser convidada e ainda nos falando mentiras!Vou ficar totalmente desmoralizado se deixar ela ir embora sem uma punição!
  -Querido,nós já estamos mais que desmoralizados!Ninguém se importa mais conosco,nem com o que fazemos ou deixamos de fazer!
  -Retire o que disse!Eu sou o grande Jupiter e minha palavra é a lei,pelo menos na minha casa!
  -Você já perdeu a moral há muito tempo,quando se comportava de maneira totalmente lasciva,cometendo adultério com tudo quanto é ninfa ou mortal mais jeitosinha que encontrava pela frente!
  -Ah,não,esse assunto de novo,não!Pensei que já tínhamos resolvido isso!
  -Resolvido nada!Toda vez que tento discutir a nossa relação você foge do assunto!
  De repente,perceberam que estavam sozinhos na grande sala do trono.Jupiter disse:
  -Por falar em fugir...Cadê aquela invasora intrometida?
  Eu já ia longe correndo pelo jardim,aproveitando-me do momento de em que estavam entretidos discutindo a relação e fugi pulando a janela.Mas podia ouvir de longe os seus gritos.
  -Volte aqui ,mortal insolente!-gritava Júpiter, vermelho de cólera-Ficou com medo dos meus raios,não é?Pois vai encarar uma coisa muito pior!Cérbero!Venha aqui,rapaz!Siga o rastro daquela invasora!Pegue-a , traga-a até aqui e mate-a,não necessariamente nessa ordem!
   "Oh,não,ele colocou Cérbero,o terrível cachorro de 3 cabeças,que guarda os portões do Hades,a terra dos mortos!"Comecei a correr feito uma louca."Mas o que ele estaria fazendo aqui,no Olimpo?Acho que ele não vai me responder se eu perguntar,talvez depois que ele me mandar pro Hades eu saiba a resposta",pensei,aterrorizada."Agora é o fim da minha aventura idiota!"
                                (continua na próxima postagem)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Era uma vez no Olimpo parte III

     Juno foi me arrastando pela sala,falando sem parar.
       -Sabe,a coisa não está fácil nem para nós ,Deuses.Ninguém mais nos presta cultos ou oferece sacrifícios em troca de nossos favores.Nem ao menos tem medo de nós.Me sinto como uma figura decorativa,como a rainha da Inglaterra,que reina,mas não governa.Visitam nossos templos para tirar fotografias,matar a curiosidade,e só.Outro dia um se pendurou na minha estátua para fazer uma pose.Onde está o respeito?Precisamos da fé das pessoas para fortalecer nosso poder!Mas este mundo mudou muito,está tão diferente...
     Fiquei pensando se aquilo era uma entrevista ou uma sessão de psicanálise.
     -Veja o caso do meu marido,Júpiter.Ele nem pode mais lançar seus raios em paz pelos céus.Outro dia quase foi atropelado por um Boing 737!E essa poluição terrível nos céus?Ele fica tossíndo o tempo todo com essa fumaça.
    De repente entrou na sala uma linda mulher loira, com roupa de ginástica.Tinha um corpo escultural e um rosto com  uma perfeição divina.Nem se dignou a nos olhar,saiu correndo pela porta afora ,em ritmo de corrida.Olhei interrogativamente para Juno.
   -Essa daí ,como você deve supor,é a  deusa Vênus.Está saindo para praticar corrida, de novo.Vive obcecada pela idéia de magreza.Não se conforma que o padrão de beleza mudou atualmente.As consideradas deusas da beleza agora são aquelas modelos esqueléticas,não as mulheres curvilíneas como ela.Dizem até que provoca o vômito escondido da ambrosia que come,mas  está fazendo terapia para superar isso,com a sua nora,a Psiquê,mulher do seu filho,o Cupido.
   -Psiquê é psicoterapeuta?
   -Lógico,com um nome desses,que outra profissão poderia seguir?Por falar em Cupido,o coitado também esta em dificuldades,pediu para o Deus Vulcano forjar flechas mais rígidas e afiadas,porque o coração das pessoas está tão duro,mas tão duro,que está praticamente impossível introduzir amor dentro dele.
  Enquanto ela falava,entrou no hall um homem,ou pelo menos de  aspecto humano,com uma roupa toda rasgada,na camiseta estava o símbolo do grupo Greenpeace.
  - Netuno!-disse Juno-O protesto terminou em confusão de novo?
  De repente,ele sofreu uma tranformaçao espantosa,tornando-se uma gigantesca figura,de cabelos loiros ,túnica branca e um tridente na mão.Saiu pisando duro,mal humorado,sem responder a pergunta de Juno,que me contou:
  -Ele costuma se disfarçar de mortal e se infiltra como ativista no grupo Greenpeace.É uma das maneiras de protestar contra a destruição e poluição dos mares.Nem sempre dá resultado,os humanos podem ser bem intransigentes.Às vezez ele fica tão furioso,que causa verdadeiros maremotos!
  Fiquei gelada.
 -Ele parece furioso agora,será que vai provocar outro tsunami?
 -Não,não.Esculápio,nosso médico,prescreveu alguns calmantes para ele.Se ele não fosse um Deus imortal,acabaria morrendo de infarto se não de acalmasse.
  Nossa conversa foi bruscamente interrompida por outra enorme figura,maior que todas as outras,cabelos e barba brancas e compridas,uma imensa coroa dourada e uma lança prateada em forma de raio em uma das mãos.Entrou esbaforido,gritando com sua voz de trovão:
  -Juno,que história é essa de ficar recebendo mortais em nosso palácio sem ser expressamente autorizada por mim?
  -Calma,querido,eu ia te contar.Ela é  reporter de uma famosa revista ,que irá falar sobre nós para o mundo inteiro.Você não acha que já é um grande passo para que voltemos a ter o nosso poder e fama de volta?
  Ele a olhou,desgostoso.
  -Você deixou que a sua vaidade lhe cegasse o discernimento.Não está vendo que ela está mentindo?
  Ela me olhou,chocada.
 -Você mentiu para mim?
 -Bem,eu...não completamente...
 -Sua estúpida!-ele se dirigiu a mim,furioso-Achava mesmo que iria conseguir enganar um Deus?
                                              (continua na próxima postagem)