terça-feira, 24 de maio de 2011

The sound of music parte 10

      


            Orfeu foi seguindo o fio que ligava Eurídice ao seu espírito.Estava tão compenetrado que,quando deu por si,tinha atravessado a parede!Do outro lado da parede,onde antes havia o nada,de repente ele viu um outro quarto,muito parecido com o que ela estava.Neste quarto,havia também uma cama,onde o espírito de Eurídice repousava.Parecia que dormia."Meu amor,como você pode dormir assim tranquila,sabendo que estão prestes a desligar os aparelhos que te mantém viva?"Começou a tentar despertá-la,sacudindo-a.
        - Eurídice,acorde! - gritava desesperado - Precisamos fazer alguma coisa,levante daí,volte para seu corpo!Você não pode morrer,por favor! - de repente,sentiu que mãos o seguravam por trás.
       - Por favor,meu irmão,não faça isso!Faz pouco tempo que consegui aquietá-la,deixe-a descansar.Ela estava muito nervosa e agitada!
       Orfeu deu um salto,estupefado.Virou-se para trás e seus olhos encontraram um velhinho muito estranho,baixinho,e de óculos.
       - Quem é você?
       - O anjo da guarda da Eurídice - num tom de que,tipo, você não vê o que é obvio?
       "Mas não se parece em nada com um anjo",pensou.
      - O que você esperava,um garotinho louro de asinhas ?Por favor Orfeu,pensei que você fosse mais evoluído!Nós podemos assumir a forma que quisermos e eu me identifico mais com essa e não com um menino de camisola!
      - E também podem ler pensamentos?Puxa!Então deve saber o que vim fazer aqui.Se você protege mesmo ela,então nos ajude.estão querendo desligar os aparelhos que a mantém viva,você tem que impedir...
      -Meu irmão,você sabe qual é a principal atribuição de um anjo,acima de todas as coisas?
      -Salvar os outros?
     -Não!É cumprir os desígnios de Deus!Está programado no plano de vida dela,que ela volte para o mundo espiritual amanhâ,não há nada que possamos fazer!
     Orfeu sentiu como uma faca gelada enterrando-se em seu peito.A dor transformou-se em revolta.
    - Que espécie de anjo é você?Incapaz de proteger uma pobre moça indefesa,de uma morte precoce e injusta?Você viu como aquele monstro provocou a queda dela?Por que não a impediu de cair? -estava a ponto de pular em cima dele.
    -Como ousa questionar a justiça de Deus?Não fale de coisas que ainda é ignorante demais para entender.Não cabe a mim explicar nada de por que ou para que certas coisas acontecem.Cabe a você descobrir por si.Mas saiba não cai uma folha de uma árvore sem que Deus o permita.E Ele ama Seus filhos,não Os deixa nunca desprotegidos.
    -Mas justo agora que ela estava começando a ser feliz?Você não via como ela vivia amargurada pela culpa e remorso pela morte de irmão,além da dor da doença da mãe,da ausência do pai,da traição do noivo?Agora que ela começava a se abrir para a vida,ela vai ser cortada dessa forma tão abrupta?-ele agora chorava abertamente.Se ajoelhou aos pés do anjo -Por piedade,seu anjo,peça a Deus pelo menos mais alguns anos,só mais um pouquinho,para que eu possa fazê-la feliz.Eu a amo tanto...
    O anjo fez Orfeu levantar-se e segurou o seu rosto.
    - Filho,se quiser realmente falar com Deus,pode falar diretamente com ele,não precisa de intermediários.
   -C-como?Eu nunca o vi,não sei onde ele está.Como posso fazer para encontrá-lo?-ele estava no auge do desespero.
   - Da mesma maneira que os seus outros irmãos na Terra fazem:faça uma oração de coração.O Senhor te ouvirá.Ele ama igualmente a todos nós.Não precisa eu pedir por você.Você pode fazer isso.
   -Quando?Onde?
   -Aqui.E agora.
   Orfeu engoliu em seco.Como argumentar com Deus,a Inteligência suprema?,pensou.Mas Ele também era a Bondade suprema e a Misericórdia também.E isso consolou o seu coração.Ajoelhou -se.E fechou os olhos.
   "Deus.Me perdoe se pude duvidar da perfeita justiça de suas leis.Sei que o Senhor é todo sabedoria e bondade.E eu sou só um pobre ignorante e imperfeito.Não sei o motivo de tais coisas terem acontecido na vida de Eurídice,na verdade,acho que prefiro nem saber.Mesmo assim,peço,Deus,que permita que ela viva mais alguns anos.Mesmo que ela não volte perfeita como ela era antes da queda,eu não me importo.Se a família não quiser cuidar dela,eu cuido.Sabe por que?Eu a amo de todo o meu coração.E sei que ela também me ama e quer ficar  ao meu lado.Sabe,Deus,eu sou músico,o Senhor sabe.Claro que sabe,pois deve ter sido o Senhor que me deu este dom.Às vezes,pareço me expressar melhor cantando.Eu gostaria de poder ter meu violão agora e cantar para ela..." Nesse instante,Jethro,o anjo da guarda de Eurídice lhe estendeu um.Ele pegou no violão e cantou  a música que lhe veio no coração no momento("Pedaço de mim" de Chico Buarque.)
"Oh,pedaço de mim
Oh,metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor"

 
   

quinta-feira, 19 de maio de 2011

The sound of music parte 9



"Meu bem querer
Meu encanto, estou sofrendo tanto
Amor, e o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado pra morrer de amor"



     Orfeu era o retrato da desolação.Sozinho, em seu quarto,dedilhava nas cordas do violão a sua dor.Havia  uma coisa que martelava sem parar em sua cabeça:"Por quê?Por quê?Por quê?".
    Deixou seu  grande amigo de lado e mergulhou a cabeça entre as  mãos.Eurídice já estava em coma há 10 dias.Sofrera traumatismo craniano grave,ela fora operada pela neurocirurgia,para retirar coágulos e pedaços de ossos de seu cérebro.Mas parece que não adiantou muito,pois ela não reagia,estava em coma profundo,não respondia a nenhum estímulo.Amanhã,os médicos iriam se reunir para definir se ela estava ou não em morte cerebral.Em caso positivo,iriam desligar os aparelhos,doar os órgãos.Ele tinha vontade de voar em cima dos médicos,do pai de Eurídice.Se agarrraria ao último fio de vida dela se fosse preciso,mas não permitiria.Tentara falar com o pai dela,mas ele parecia anestesiado,um zumbi.Não estava suportando a idéia de perder um filho mais uma vez.
   Rodolfo fora preso em flagrante.Enquanto os advogados discutiam se o crime era culposo ou doloso,ele se suicidara na prisão.Não suportara a idéia de ser desmascarado."Covarde",pensou Orfeu,"nem capaz de assumir os seus própios atos o infeliz foi!"
   Ele só pôde entrar na UTI poucas vezes e por poucos minutos.Seu coração se sentiu esmagado em mil pedaços ao vê-la naquele estado,toda enfaixada,cheia de tubos e de fios."Justo agora que ela começava a ser feliz de novo!Não tem lógica!"Ele se sentia impotente no grau máximo.Precisava fazer algo antes que fosse tarde demais,mas o quê?Entar de sorrateiro no hospital e sequestrá-la?Iria precisar de uma UTI móvel para carregá-la.Poderia roubar uma,mas teria que levar o médico junto,mas provavelmente ele não iria ser muito cooperativo num caso de duplo sequestro.
   Repentinamente,teve um "insight".Mesmo que carregasse o corpo dela,ela não estaria ali.Ele não acreditava que o espírito se libertava quando as pessoas dormem?Para aonde os espíritos iriam então,quando as pessoas estavam em coma profundo?Provavelmente, em algum mundo intermediário entre o mundo dos vivos e o dos mortos.Precisava encontra-la,mas como?"Primeiro,tenho que me libertar do corpo também",pensou."Mas,de que maneira?Me matando?"perguntou-se."lógico que não,idiota,eu quero trazê-la para o mundo dos vivos,e não arrastá-la ainda mais rápido para o mundo dos mortos!"
   Correu para o computador.Tinha que descobrir uma maneira de deixar o corpo sem morrer.Lógico,poderia dormir e tentar se encontar com ela em sonho,mas e se não sonhasse ?Além do mais,achava muito difícil que conseguisse dormir aquela noite.Pesquisou sobre viagem astral,projeciologia,meditação,mantras indianos,transe.Tentou tudo,mas nada deu certo.Por fim,começou a gritar histericamente e a chorar tanto que no fim as lágrimas secaram e ele praticamente desmaiaou de cansaço.Seus últimos pensamentos antes de perder a consciência foram uma prece ao seu anjo da guarda,um pedido de socorro desesperado.
    Quando recuperou a consciência,ele pode observar, estupefado,que estava contemplando o seu próprio corpo adormecido,e do alto."Meu Deus,estou voando!Eu consegui!Obrigado!Obrigado!"Conseguiu em parte.Ele estava no mundo astral,ou espiritual,mas ainda não encontrara a sua amada.E,como ele pensava,ela não estava naquele box da UTI,como ele pôde constatar assim que chegou no hospital.Com a visão espiritual,ele pôde ver uma linha muito tênue,que saía do corpo de Eurídice."É o cordão de prata!A linha que liga os espíritos ao corpo material!"Fascinado,constatou que era mesmo verdade que ele ainda existia no corpo dela.Eurídice ainda não estava morta,como queriam provar os médicos,pois o seu cordão da vida ainda não tinha se rompido!Precisava agir rápido,tinha que seguir o fio,pois no final dele era onde ela estava!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

The sound of music parte 8

"Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Will you be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven


Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?
I'll find my way
Through night and day
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven"


      No rádio do carro de Eurídice,tocava "Tears in heaven",de Erick Clapton.Eles estavam juntos ,Orfeu dirigia.O porta malas cheio de bagagens,a cabeça cheia de sonhos.Iriam fazer a primeira viagem juntos.Antes,porém,Eurídice iria passar na empresa do pai,para se despedir.Não gostaria de viajar sem falar com ele antes.Orfeu estacionou o carro.
    -Vai levar só alguns minutos.Preciso avisar meu pai.Faz tanto que eu não viajo que ele é capaz de achar que eu fui sequestrada!-saiu do carro sorrindo e entrou pela portaria.
     O escritório do pai ficava no quinto andar.
    -Bom dia,Marta!-cumprimentou a secretária  na antessala do seu pai e entrou direto,sem dar tempo da velha senhora lhe dizer que o seu pai não estava.
    O escritório,porém,não estava vazio.Rodolfo,seu ex-noivo e puxa-saco número 1 de seu pai estava sentado displicentemente na cadeira do patrão,com os pés sobre a mesa.Quando Eurídice entrou,ele levantou-se de súbito,completamente sem graça.
    -Aonde está meu pai?E o que você está fazendo sentado na cadeira dele?
    -Seu pai saiu para uma reunião de negócios.E,quanto a mim,estou treinando para quando eu ocupar este lugar,depois de nos casarmos.-e deu um sorrisinho cínico.
    -Ponha uma coisa na sua cabeça:eu nunca vou me casar com você!Nós não estamos mais juntos,esqueceu?E já faz bastante tempo!
    -Deixe de bobagem,eu sou a pessoa perfeita pra você,e você sabe.Além disso,seu pai também acha o mesmo.
    -Tudo o que o meu pai quer é que eu esteja feliz,foi o que ele me disse ontem.
    -E que melhor maneira de ser feliz do que estar do lado de uma pessoa que te ama de verdade,que daria o mundo para estar ao seu lado?
    -Ama nada!A única pessoa que você ama é a pessoa que você vê quando se olha no espelho!Ama é a possibilidade de se tornar presidente da empresa,casando com a filha do dono!
   -Que mentira!Te amo como nunca amei...
   -Rodolfo,pára com esse teatro!Eu sei de tudo,das suas amantes,de seus encontros pelas minhas costas.Sei até da pobre mulher mãe de seus 2 filhos,que você abandonou!
  -Isso é uma calúnia!
  -Chega,não vou mais discutir!Eu estou com outra pessoa,me deixe em paz,não me aborreça!
   Rodolfo ficou branco de ódio.Num ímpeto,agarrou-a.
   -Não pense que seu pai vai aceitar que se case com aquele professorzinho favelado!Ele não vai permitir nunca!
   Ela lutava para se desvencilhar.
   -Ele já sabe do Orfeu-sua voz saia num esforço-E a minha vida não é mais da sua conta há muito tempo...
    Eurídice conseguiu se soltar parcialmente e ele a puxava por apenas um braço.Ela foi se afastando e fazia força,acabou puxando ele junto e foram parar na varanda do escritório.Nesse momento a porta se abriu de sopetão e o pai de Eurídice entrou.Parou estupefado com a cena.Seu empregado segurando o braço de sua filha,que parecia fazer enorme esforço para se soltar.Nesse ínterim,Rodolfo deu-se conta da sua presença e soltou Eurídice bruscamente.Esta perdeu o equilíbrio,chocando-se com a balaustarda da varanda,que infelizmente quebrou-se com seu peso.O predio era antigo,e a madeira estava enfraquecida pelos anos e pelos cupins.Eurídice voou do quinto andar e aterrissou no pátio,aos pés de Orfeu,que voou desesperado sobre ela.
  


   
  

terça-feira, 3 de maio de 2011

The sound of music - parte 7

"Wise men say, only fools rush in
But I can't help, falling in love with you
Shall I stay? Would it be a sin
If I can't help, falling in love with you?

Like a river flows, surely to the sea,
Darling, so it goes somethings are meant to be.
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help, Falling in love with you

Like a river flows, surely to the sea
Darling so it goes, somethings are meant to be
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help falling in love with you.

For I can't help falling in love with you"  





             Orfeu cantava no violão "Can't help falling in love",sentado no banco do jardim do parque,enquanto olhava Eurídice correr entre as flores,tentando fazer uma borboleta pousar em sua mão.Uma das visões mais lindas que já teve na vida.Os cabelos esvoaçantes,caindo em cascatas douradas por suas costas,com algumas folhas entre eles.Os olhos com um brilho intenso,mostrando que dentro dela a chama da vida ardia intensa."Não,realmente eu não posso evitar de me apaixonar por você".Enquanto ele cantava esse trecho da canção,seus olhos se cruzaram e ela parou.Finalmente ela entendeu o que ele não conseguia dizer com as suas próprias palavras.Caminhou até ele e sorriu.Um borboleta acabara de pousar em sua mão.
         -Algumas pessoas comparam a borboleta a alma humana.Quando morremos,ela se liberta do corpo,como a borboleta se livra do casulo.E aí então ela pode voar pelo infinito.Eu ainda não morri,mas parece que me livrei da couraça que me aprisionava.Sinto que agora ,se não posso sair voando,posso sair saltitando por aí.
       -Que bom,Eurídice,que bom que você escolheu viver!Como dizia  Buda,"A dor é inevitável,mas o sofrimento é opcional".
       -Eu não sei se temos o poder de optar se vamos sofrer ou não diante da dor,mas eu sei agora o que eu quero escolher.Eu escolho você.  - e tascou-lhe um beijo na boca.
       Orfeu ofegou,ela o pegou de surpresaAgora ele é que sentiu as famosas borboletas no estômago.
       Desde então tornaram-se companheiros inseparáveis.Ela sentia uma leveza,uma alegria,que nunca sentira antes.Achava que ao lado dele poderia enfrentar qualquer coisa.Mas não estava preparada para as intempéries que viriam pela frente.
        Nem todo mundo ficou satisfeito com a nova fase da vida de Eurídice.E não demoraria muito para ela ficar sabendo disso...