segunda-feira, 13 de junho de 2011

The sound of music parte final

"Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei
Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar"




       Na praça central da cidade,os transeuntes apressados,diminuiam o ritmo dos passos,até pararem por completo e ficavam embevecidos por aquela música."Ele toca e canta muito bem pra um mendigo",diziam.Alguns achavam seu rosto  vagamente familiar,principalmente aqueles que frequentaram um certo bar ou foram alunos de uma certa escola de música.Não,aquele rapaz maltraplilho,de  cabelos compridos,barbudo,não poderia ser aquele charmoso cantor  ou o inteligente professor que conheceram.Se ele fosse cantor ou professor,não precisaria estar pedindo esmolas,pois,sim,era de esmolas que ele estava vivendo.E dormindo no banco da praça.Mas existiu uma pessoa que reconheceu que o mendigo e o professor-cantor Orfeu eram a mesma pessoa.E não se conformava com isso.Achava que tanta beleza,tanto talento,não poderiam ser  desperdiçados..Por causa de uma garota?Já faziam cinco anos que Eurídice morrera,e ele não conseguiu superar ainda.Parece que entrou numa depressão profunda,largou os empregos e vivia perambulando nas ruas,parecia que tinha ficado louco."Por que enterrar-se vivo por uma garota que está morta,quando existem muitas outras disponíveis e vivas,como eu,mais viva do que nunca!",pensou  Helena,"preciso dar um jeito nisso,preciso ajuda-lo a sair desse buaco em que se enfiou"Depois de varias vezes cruzar com ele na praça,resolveu abordá-lo.
     -Orfeu!Que prazer em revê-lo!
     Ele a encarou,mas não mostrou reconhecimento em seus olhos.Ela percebeu.
     -Lembra?Sou Helena,sua ex-aluna da Escola de Música.Eu morava na mesma rua que a Eurídice morava!
     A menção do nome de Eurídice ainda  doía e provocava uma onda de tristeza nos seus olhos,mesmo depois de todos esses anos.Acabou se lembrando de Helena.Uma lembrança não muito agradável.Lembrava-se dela insinuando-se para ele de maneira descarada,mesmo sabendo que era namorado da amiga.Aliás,até na frente da própria Eurídice,que mesmo percebendo,não deu a mínima,por saber que era a única pra ele."Era não,é"pensou.Percebeu que ela começou a se aproximar dele,e ele instintivamente afastou-se.Não estava a fim de conversar.Cantar era o seu único alento.Mas ela não desistiu.
    -Por que você parou de cantar no bar?E parou de dar aulas?Uma pessoa carismática como você,tão talentoso!Poderia ter uma carreira brilhante!
    Orfeu não tinha nada para responder,ela não entederia que nada mais importava.Em vez disso,começou a tocar "Esquinas" de Djavan novamente,ignorando-a.Ela ficou furiosa.Mesmo nesse estado de penúria e mendicância,ainda assim a rejeitava.Se agarrava aquele violão como um troféu.O violão que ele ganhara de Eurídice,ela conhecia a história.
   -Você precisa reagir,está se enterrando vivo!Que tem que estar enterrada é ela,não você!E não vai conseguir sem ajuda!Tem que se desligar do passado,pensar no futuro!E o primeiro passo é se livrar desse violão velho!Vou te dar um novinho em folha!-e arrancou o instrumento das mãos dele,inesperadamente,e ele não teve tempo de esboçar reação.De repente ele saiu de sua apatia e foi tomado por tal fúria,que ela se assustou.Começou a correr com o violão na mão e Orfeu correu atrás dela.
   -Me devolva isso,ele me pertence!-sua voz parecia um uivo de lobo ferido
   -Querido,é pro seu próprio bem,é o primeiro passo para reiniciar sua vida!-e atravessou correndo a rua.
   Orfeu, tentando alcançá-la  seguiu-a na travessia da rua,sem perceber que estava exatamente na direção do trajeto de um carro em alta velocidade.O motorista freou feito um louco,achando que ele era um bêbado ou doente mental.Mas isso não o impediu de ver o mendigo voando por sobre o capô do carro.
    Após levantar vôo por alguns segundos,Orfeu aterrisou alguns metros adiante."Aquela desgraçada!Aonde ela está?"Levantou-se já ia reiniciar sua perseguição por Helena,quando viu um aglomerado de pessoas.No meio delas,a própria Helena,que chorava,com a cabeça entre as mãos.
   -Me d-d-desculpe,não tive a intenção...
   -Helena,eu estou bem,não precisa chorar.Me entrega o meu violão e não se fala mais nisso.
   Mas ela não parecia escutá-lo.Nem mesmo olhava para ele.Olhava para o chão,na mesma direção em que olhavam as outras pessoas.E ele estupefado,descobriu-se também olhando o seu próprio corpo,estendido no asfalto,com uma enorme poça de sangue ao redor da cabeça."Meu,Deus,o que foi que eu fiz?",pensou,
    -Afastem-se,chegou a ambulância!-diziam as pessoas ao redor.Mas a equipe dos bombeiros chegou apenas para constatar que a morte dele tinha sido instantânea.
     Orfeu ficou desnorteado.Se comportara de maneira insana,atravessando na frente do carro.Não tivera a intenção,mas fora negligente.O anjo tinha dito que o suicídio o afastaria ainda mais de Eurídice.Será que considerariam sua morte como um suicídio?Sentou-se no meio fio,com a cabeça a baixa.
     -Eu estava contando os dias pra esse dia chegar!
     Aquela voz.Ele a reconheceria nem que fosse no meio do inferno.
     -Eurídice!E-e-eu achei que tinha a perdido de novo!
     -Claro que não,meu amor!Venha,vamos para casa!
     -Que casa?Onde?Como?
     -Eu vou te mostrar como-e levantou vôo,carregando Orfeu-Eu não disse que a nossa alma é como uma borboleta que sai do casulo?Está na hora de voar!
     -Mas e o nosso violão?
     -Esqueça!Aonde nós vamos tem todos os instrumentos musicais que você quiser.Mal posso esperar para ouvi você tocar só pra mim novamente...
     -Tem razão,eu também!Mas será que você não vai ficar enjoada?Ficar me ouvindo por toda a enternidade?
     -A eternidade,pra gente agora,é nada mais que um segundo....

domingo, 5 de junho de 2011

The sound of music parte 11

     Repentinamente,todo o recinto aonde eles se encontravam se iluminou.No meio de um facho de luz,uma silhueta foi se delineando,até tornar-se visível a  figura gigantesca de um homem com enormes asas .Orfeu arregalou os olhos.Jetrho fez cara de enfado e deu um suspiro:"Athael...Adora entradas triunfais!..."
    - Saudações,caros irmãos!Tenho boas notícias! -Athael falou com sua voz megafônica-Orfeu,você conseguiu comover a todos nós com seu amor e com sua música.Até os espíritos mais endurecidos amoleceram o coração com a sua dor.Todos fizeram coro ao rogar ao Deus que concedesse o seu pedido.E Deus me ordenou que viesse comunicar a você que sua querida Eurídice poderá voltar ao convívio dos vivos ,na Terra!
    Orfeu caiu de joelhos agradecido aos pés do anjo.Depois levantou-se e fez menção de acordar Eurídice,mas Athael impediu-o.
    -Não faça isso,você não pode acordá-la!Ela não deve vê-lo agora!Jethro deverá conduzir os dois de volta ao seu corpo físico.Somente depois que ela acordar do coma é que deverá revê-lo.
   -Ele tem razão -disse Jethro-Antes de você chegar,ela estava extremamente agitada e em desequilíbrio.O fio da vida que prende o seu espírito ao corpo está muito tênue.Qualquer desarranjo adicional no seu campo energético emocional poderá rompê-lo,e,uma vez rompido,torna-se muito mais difícil reverter o quadro.Ver você aqui poderá ser uma emoção forte demais pra ela.Será mais seguro que vocês se reencontrem apenas acordados no mundo material.
   Combinaram que Orfeu seguiria mais a frente e Euridice iria logo atrás de,maneira que não pudesse vê-lo.Jethro iria entre os dois e ajudaria Euridice no seu despertar em seu corpo novamente.
    -Não se esqueça,Orfeu,em hipótese alguma,olhe ou fale com ela!Deixe que eu cuido de tudo!
    Orfeu caminhava ,olhando para frente,mas podia sentir a presença dela às suas costas.Euridice caminhava como uma sonâmbula,seguindo o espetro luminoso de seu anjo da guarda.Foi então que tudo aconteceu.Orfeu viu o espirito de Rodolfo passar por ele e se dirigir a Eurídice.Parecia torturado e amargurado,como a maioria dos espíritos dos suicidas."Não vou permitir que esse desgraçado a atormente novamente!"
    -Não se aproxime dela!-urrou.Mas ele o ignorou e se aproximou mais,com Orfeu no seu encalço,que o agarrou pelos braços.
    -Eu preciso falar com ela!Eurídice!Me perdoe!Preciso de seu perdão para ter um pouco de paz!
    -Parem!-gritava Jetrho-Orfeu,volte para seu lugar!Eu não disse para deixar tudo comigo?
   Mas era tarde demais,com todo esse tumulto,Euridice acordou de seu transe e viu Orfeu.Nesse momento,não teve olhos para mais ninguém mais.Nem para Rodolfo,nem para o seu anjo da guarda.
    -Orfeu,meu amor!O que faz aqui?Também está no mundo dos mortos?Não,não posso suportar que também tenha morrido,você tinha toda a vida pela frente,foi tudo culpa minha não foi?Por minha causa você está aqui,acabou com a própria vida!Mas só eu mereço a morte e não você!
   Por mais que ele tentasse acalmá-la,ela entrou em tal estado de agitação que ninguém pôde segurá-la.Começou a se debater feito louca e o inevitável aconteceu:seu cordão de prata arrebendou-se e viu-se desligada de seu corpo físico para sempre.No momento em que isso aconteceu,ela foi se afastando, como que  sugada para dentro de um abismo e desapareceu.
   Orfeu gritava desesperado:
   -Nãooooo!Por favor volte!Seu desgraçado,de novo você a destruiu!-e queria avançar sobre Rodolfo.Jethro o impediu.
    -Deixe-o,Orfeu,ele já tem sua cota de sofrimento suficiente para suportar.-disse, enquanto Rodolfo se afastava.-Mas você,por que não confiou em mim?Eu não disse que a protegeria?E não disse que ela não deveria vê-lo?Por causa de sua falta de confiança em mim e em Deus,acabou perdendo-a.
   Orfeu era um poço de desolação.O anjo tinha razão,como ele pôde estragar tudo,depois de estar tão perto de ter a sua amada de volta?Mas ainda haveria outra solução,nada haveria de separá-los."Já que ela vai ficar no mundo dos espíritos,eu também ficarei,também não vou voltar.De que me adianta voltar ao mundo dos vivos,se ela não está presente?"
   -Nem pense nisso,rapaz!-Jethro logo captou seus pensamentos.-Sabe que o suicídio é uma das faltas mais graves contra a lei de Deus.Provavelmente aumentará mais ainda a distância que agora separa vocês dois.Volte para sua vida ,meu filho,e tente viver os anos que te restam da melhor maneira que puder,é tudo o que pode fazer por enquanto...-passou os dedos nos olhos de Orfeu,que se fecharam.Foi a última coisa que Orfeu se lembrou,antes de retornar ao seu corpo físico.Acordou com o barulho de seu telefone tocando.Era Marisa,sua amiga enfermeira,que trabalhava no hospital aonde Euridice estava internada.Ele já sabia o que ela iria dizer.
   -Orfeu,eu sinto muito...A sua namorada teve uma parada cardíaca.Acabou evoluindo para óbito...
   Ele foi escorregando,apoiado pela parede,até cair no chão em posição fetal.

terça-feira, 24 de maio de 2011

The sound of music parte 10

      


            Orfeu foi seguindo o fio que ligava Eurídice ao seu espírito.Estava tão compenetrado que,quando deu por si,tinha atravessado a parede!Do outro lado da parede,onde antes havia o nada,de repente ele viu um outro quarto,muito parecido com o que ela estava.Neste quarto,havia também uma cama,onde o espírito de Eurídice repousava.Parecia que dormia."Meu amor,como você pode dormir assim tranquila,sabendo que estão prestes a desligar os aparelhos que te mantém viva?"Começou a tentar despertá-la,sacudindo-a.
        - Eurídice,acorde! - gritava desesperado - Precisamos fazer alguma coisa,levante daí,volte para seu corpo!Você não pode morrer,por favor! - de repente,sentiu que mãos o seguravam por trás.
       - Por favor,meu irmão,não faça isso!Faz pouco tempo que consegui aquietá-la,deixe-a descansar.Ela estava muito nervosa e agitada!
       Orfeu deu um salto,estupefado.Virou-se para trás e seus olhos encontraram um velhinho muito estranho,baixinho,e de óculos.
       - Quem é você?
       - O anjo da guarda da Eurídice - num tom de que,tipo, você não vê o que é obvio?
       "Mas não se parece em nada com um anjo",pensou.
      - O que você esperava,um garotinho louro de asinhas ?Por favor Orfeu,pensei que você fosse mais evoluído!Nós podemos assumir a forma que quisermos e eu me identifico mais com essa e não com um menino de camisola!
      - E também podem ler pensamentos?Puxa!Então deve saber o que vim fazer aqui.Se você protege mesmo ela,então nos ajude.estão querendo desligar os aparelhos que a mantém viva,você tem que impedir...
      -Meu irmão,você sabe qual é a principal atribuição de um anjo,acima de todas as coisas?
      -Salvar os outros?
     -Não!É cumprir os desígnios de Deus!Está programado no plano de vida dela,que ela volte para o mundo espiritual amanhâ,não há nada que possamos fazer!
     Orfeu sentiu como uma faca gelada enterrando-se em seu peito.A dor transformou-se em revolta.
    - Que espécie de anjo é você?Incapaz de proteger uma pobre moça indefesa,de uma morte precoce e injusta?Você viu como aquele monstro provocou a queda dela?Por que não a impediu de cair? -estava a ponto de pular em cima dele.
    -Como ousa questionar a justiça de Deus?Não fale de coisas que ainda é ignorante demais para entender.Não cabe a mim explicar nada de por que ou para que certas coisas acontecem.Cabe a você descobrir por si.Mas saiba não cai uma folha de uma árvore sem que Deus o permita.E Ele ama Seus filhos,não Os deixa nunca desprotegidos.
    -Mas justo agora que ela estava começando a ser feliz?Você não via como ela vivia amargurada pela culpa e remorso pela morte de irmão,além da dor da doença da mãe,da ausência do pai,da traição do noivo?Agora que ela começava a se abrir para a vida,ela vai ser cortada dessa forma tão abrupta?-ele agora chorava abertamente.Se ajoelhou aos pés do anjo -Por piedade,seu anjo,peça a Deus pelo menos mais alguns anos,só mais um pouquinho,para que eu possa fazê-la feliz.Eu a amo tanto...
    O anjo fez Orfeu levantar-se e segurou o seu rosto.
    - Filho,se quiser realmente falar com Deus,pode falar diretamente com ele,não precisa de intermediários.
   -C-como?Eu nunca o vi,não sei onde ele está.Como posso fazer para encontrá-lo?-ele estava no auge do desespero.
   - Da mesma maneira que os seus outros irmãos na Terra fazem:faça uma oração de coração.O Senhor te ouvirá.Ele ama igualmente a todos nós.Não precisa eu pedir por você.Você pode fazer isso.
   -Quando?Onde?
   -Aqui.E agora.
   Orfeu engoliu em seco.Como argumentar com Deus,a Inteligência suprema?,pensou.Mas Ele também era a Bondade suprema e a Misericórdia também.E isso consolou o seu coração.Ajoelhou -se.E fechou os olhos.
   "Deus.Me perdoe se pude duvidar da perfeita justiça de suas leis.Sei que o Senhor é todo sabedoria e bondade.E eu sou só um pobre ignorante e imperfeito.Não sei o motivo de tais coisas terem acontecido na vida de Eurídice,na verdade,acho que prefiro nem saber.Mesmo assim,peço,Deus,que permita que ela viva mais alguns anos.Mesmo que ela não volte perfeita como ela era antes da queda,eu não me importo.Se a família não quiser cuidar dela,eu cuido.Sabe por que?Eu a amo de todo o meu coração.E sei que ela também me ama e quer ficar  ao meu lado.Sabe,Deus,eu sou músico,o Senhor sabe.Claro que sabe,pois deve ter sido o Senhor que me deu este dom.Às vezes,pareço me expressar melhor cantando.Eu gostaria de poder ter meu violão agora e cantar para ela..." Nesse instante,Jethro,o anjo da guarda de Eurídice lhe estendeu um.Ele pegou no violão e cantou  a música que lhe veio no coração no momento("Pedaço de mim" de Chico Buarque.)
"Oh,pedaço de mim
Oh,metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor"

 
   

quinta-feira, 19 de maio de 2011

The sound of music parte 9



"Meu bem querer
Meu encanto, estou sofrendo tanto
Amor, e o que é o sofrer
Para mim que estou
Jurado pra morrer de amor"



     Orfeu era o retrato da desolação.Sozinho, em seu quarto,dedilhava nas cordas do violão a sua dor.Havia  uma coisa que martelava sem parar em sua cabeça:"Por quê?Por quê?Por quê?".
    Deixou seu  grande amigo de lado e mergulhou a cabeça entre as  mãos.Eurídice já estava em coma há 10 dias.Sofrera traumatismo craniano grave,ela fora operada pela neurocirurgia,para retirar coágulos e pedaços de ossos de seu cérebro.Mas parece que não adiantou muito,pois ela não reagia,estava em coma profundo,não respondia a nenhum estímulo.Amanhã,os médicos iriam se reunir para definir se ela estava ou não em morte cerebral.Em caso positivo,iriam desligar os aparelhos,doar os órgãos.Ele tinha vontade de voar em cima dos médicos,do pai de Eurídice.Se agarrraria ao último fio de vida dela se fosse preciso,mas não permitiria.Tentara falar com o pai dela,mas ele parecia anestesiado,um zumbi.Não estava suportando a idéia de perder um filho mais uma vez.
   Rodolfo fora preso em flagrante.Enquanto os advogados discutiam se o crime era culposo ou doloso,ele se suicidara na prisão.Não suportara a idéia de ser desmascarado."Covarde",pensou Orfeu,"nem capaz de assumir os seus própios atos o infeliz foi!"
   Ele só pôde entrar na UTI poucas vezes e por poucos minutos.Seu coração se sentiu esmagado em mil pedaços ao vê-la naquele estado,toda enfaixada,cheia de tubos e de fios."Justo agora que ela começava a ser feliz de novo!Não tem lógica!"Ele se sentia impotente no grau máximo.Precisava fazer algo antes que fosse tarde demais,mas o quê?Entar de sorrateiro no hospital e sequestrá-la?Iria precisar de uma UTI móvel para carregá-la.Poderia roubar uma,mas teria que levar o médico junto,mas provavelmente ele não iria ser muito cooperativo num caso de duplo sequestro.
   Repentinamente,teve um "insight".Mesmo que carregasse o corpo dela,ela não estaria ali.Ele não acreditava que o espírito se libertava quando as pessoas dormem?Para aonde os espíritos iriam então,quando as pessoas estavam em coma profundo?Provavelmente, em algum mundo intermediário entre o mundo dos vivos e o dos mortos.Precisava encontra-la,mas como?"Primeiro,tenho que me libertar do corpo também",pensou."Mas,de que maneira?Me matando?"perguntou-se."lógico que não,idiota,eu quero trazê-la para o mundo dos vivos,e não arrastá-la ainda mais rápido para o mundo dos mortos!"
   Correu para o computador.Tinha que descobrir uma maneira de deixar o corpo sem morrer.Lógico,poderia dormir e tentar se encontar com ela em sonho,mas e se não sonhasse ?Além do mais,achava muito difícil que conseguisse dormir aquela noite.Pesquisou sobre viagem astral,projeciologia,meditação,mantras indianos,transe.Tentou tudo,mas nada deu certo.Por fim,começou a gritar histericamente e a chorar tanto que no fim as lágrimas secaram e ele praticamente desmaiaou de cansaço.Seus últimos pensamentos antes de perder a consciência foram uma prece ao seu anjo da guarda,um pedido de socorro desesperado.
    Quando recuperou a consciência,ele pode observar, estupefado,que estava contemplando o seu próprio corpo adormecido,e do alto."Meu Deus,estou voando!Eu consegui!Obrigado!Obrigado!"Conseguiu em parte.Ele estava no mundo astral,ou espiritual,mas ainda não encontrara a sua amada.E,como ele pensava,ela não estava naquele box da UTI,como ele pôde constatar assim que chegou no hospital.Com a visão espiritual,ele pôde ver uma linha muito tênue,que saía do corpo de Eurídice."É o cordão de prata!A linha que liga os espíritos ao corpo material!"Fascinado,constatou que era mesmo verdade que ele ainda existia no corpo dela.Eurídice ainda não estava morta,como queriam provar os médicos,pois o seu cordão da vida ainda não tinha se rompido!Precisava agir rápido,tinha que seguir o fio,pois no final dele era onde ela estava!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

The sound of music parte 8

"Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Will you be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven


Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?
I'll find my way
Through night and day
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven"


      No rádio do carro de Eurídice,tocava "Tears in heaven",de Erick Clapton.Eles estavam juntos ,Orfeu dirigia.O porta malas cheio de bagagens,a cabeça cheia de sonhos.Iriam fazer a primeira viagem juntos.Antes,porém,Eurídice iria passar na empresa do pai,para se despedir.Não gostaria de viajar sem falar com ele antes.Orfeu estacionou o carro.
    -Vai levar só alguns minutos.Preciso avisar meu pai.Faz tanto que eu não viajo que ele é capaz de achar que eu fui sequestrada!-saiu do carro sorrindo e entrou pela portaria.
     O escritório do pai ficava no quinto andar.
    -Bom dia,Marta!-cumprimentou a secretária  na antessala do seu pai e entrou direto,sem dar tempo da velha senhora lhe dizer que o seu pai não estava.
    O escritório,porém,não estava vazio.Rodolfo,seu ex-noivo e puxa-saco número 1 de seu pai estava sentado displicentemente na cadeira do patrão,com os pés sobre a mesa.Quando Eurídice entrou,ele levantou-se de súbito,completamente sem graça.
    -Aonde está meu pai?E o que você está fazendo sentado na cadeira dele?
    -Seu pai saiu para uma reunião de negócios.E,quanto a mim,estou treinando para quando eu ocupar este lugar,depois de nos casarmos.-e deu um sorrisinho cínico.
    -Ponha uma coisa na sua cabeça:eu nunca vou me casar com você!Nós não estamos mais juntos,esqueceu?E já faz bastante tempo!
    -Deixe de bobagem,eu sou a pessoa perfeita pra você,e você sabe.Além disso,seu pai também acha o mesmo.
    -Tudo o que o meu pai quer é que eu esteja feliz,foi o que ele me disse ontem.
    -E que melhor maneira de ser feliz do que estar do lado de uma pessoa que te ama de verdade,que daria o mundo para estar ao seu lado?
    -Ama nada!A única pessoa que você ama é a pessoa que você vê quando se olha no espelho!Ama é a possibilidade de se tornar presidente da empresa,casando com a filha do dono!
   -Que mentira!Te amo como nunca amei...
   -Rodolfo,pára com esse teatro!Eu sei de tudo,das suas amantes,de seus encontros pelas minhas costas.Sei até da pobre mulher mãe de seus 2 filhos,que você abandonou!
  -Isso é uma calúnia!
  -Chega,não vou mais discutir!Eu estou com outra pessoa,me deixe em paz,não me aborreça!
   Rodolfo ficou branco de ódio.Num ímpeto,agarrou-a.
   -Não pense que seu pai vai aceitar que se case com aquele professorzinho favelado!Ele não vai permitir nunca!
   Ela lutava para se desvencilhar.
   -Ele já sabe do Orfeu-sua voz saia num esforço-E a minha vida não é mais da sua conta há muito tempo...
    Eurídice conseguiu se soltar parcialmente e ele a puxava por apenas um braço.Ela foi se afastando e fazia força,acabou puxando ele junto e foram parar na varanda do escritório.Nesse momento a porta se abriu de sopetão e o pai de Eurídice entrou.Parou estupefado com a cena.Seu empregado segurando o braço de sua filha,que parecia fazer enorme esforço para se soltar.Nesse ínterim,Rodolfo deu-se conta da sua presença e soltou Eurídice bruscamente.Esta perdeu o equilíbrio,chocando-se com a balaustarda da varanda,que infelizmente quebrou-se com seu peso.O predio era antigo,e a madeira estava enfraquecida pelos anos e pelos cupins.Eurídice voou do quinto andar e aterrissou no pátio,aos pés de Orfeu,que voou desesperado sobre ela.
  


   
  

terça-feira, 3 de maio de 2011

The sound of music - parte 7

"Wise men say, only fools rush in
But I can't help, falling in love with you
Shall I stay? Would it be a sin
If I can't help, falling in love with you?

Like a river flows, surely to the sea,
Darling, so it goes somethings are meant to be.
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help, Falling in love with you

Like a river flows, surely to the sea
Darling so it goes, somethings are meant to be
Take my hand, take my whole life too.
For I can't help falling in love with you.

For I can't help falling in love with you"  





             Orfeu cantava no violão "Can't help falling in love",sentado no banco do jardim do parque,enquanto olhava Eurídice correr entre as flores,tentando fazer uma borboleta pousar em sua mão.Uma das visões mais lindas que já teve na vida.Os cabelos esvoaçantes,caindo em cascatas douradas por suas costas,com algumas folhas entre eles.Os olhos com um brilho intenso,mostrando que dentro dela a chama da vida ardia intensa."Não,realmente eu não posso evitar de me apaixonar por você".Enquanto ele cantava esse trecho da canção,seus olhos se cruzaram e ela parou.Finalmente ela entendeu o que ele não conseguia dizer com as suas próprias palavras.Caminhou até ele e sorriu.Um borboleta acabara de pousar em sua mão.
         -Algumas pessoas comparam a borboleta a alma humana.Quando morremos,ela se liberta do corpo,como a borboleta se livra do casulo.E aí então ela pode voar pelo infinito.Eu ainda não morri,mas parece que me livrei da couraça que me aprisionava.Sinto que agora ,se não posso sair voando,posso sair saltitando por aí.
       -Que bom,Eurídice,que bom que você escolheu viver!Como dizia  Buda,"A dor é inevitável,mas o sofrimento é opcional".
       -Eu não sei se temos o poder de optar se vamos sofrer ou não diante da dor,mas eu sei agora o que eu quero escolher.Eu escolho você.  - e tascou-lhe um beijo na boca.
       Orfeu ofegou,ela o pegou de surpresaAgora ele é que sentiu as famosas borboletas no estômago.
       Desde então tornaram-se companheiros inseparáveis.Ela sentia uma leveza,uma alegria,que nunca sentira antes.Achava que ao lado dele poderia enfrentar qualquer coisa.Mas não estava preparada para as intempéries que viriam pela frente.
        Nem todo mundo ficou satisfeito com a nova fase da vida de Eurídice.E não demoraria muito para ela ficar sabendo disso...
       
                                                                               

quarta-feira, 6 de abril de 2011

The sound of music capitulo 6

"É como um sol de verão
Queimando no peito
Nasce um novo desejo
Em meu coração
É uma nova canção
Rolando no vento
Sinto a magia do amor
Na palma da mão
É verão!
Bom sinal!
Já é tempo
De abrir o coração
E sonhar..."



   Eurídice levantou-se junto com o sol.Correu para abrir a janela e saudar o astro-rei.Sentia-se leve como uma pluma.Precisava falar com Orfeu imediatamrente,senão seu coração iria explodir,então telefonou para ele.Ele atendeu.Já estava acordado,aprontando-se para ir para a faculdade.Combinou com ele de encontrarem-se no final da tarde,no calçadão,em frente a praia.Ele ficou surpreso de ela querer encontrar-se com ele ao ar livre,pois ela era uma das pessoas mais reclusas que ele conhecia.Achou um bom sinal.
   Eram quase 6 horas quando ele chegou e a encontrou sentada na mureta,olhando para o mar.
   -Desculpe o atraso,peguei um engarrafamento e... -  parou a frase no meio,boquiaberto,ao ver a inédita expressão de felicidade nos olhos dela.
   - Não tem a menor importância.Sinto agora como se tivesse todo o tempo do mundo a disposição na minha frente.Ou melhor,a nossa disposição!
   -O que houve?Conseguiu convercer-se de  que não é culpada de nada?Conseguiu se perdoar?
   -Melhor!Meu irmão me perdoou!Você tinha razão!Tive um sonho maravilhoso com ele!
   -Que fantástico,você conseguiu,então!Conte tudo,como foi?
   -Durante várias noites,antes de adormecer,eu pensava muito nele e pedia em oração que Deus permitisse que nós nos falássemos,pois precisava desesperadamente disso para sentir paz.E de alguma maneira,sentia que ele queria me falar também!Então,numa noite,sonhei que estava  como que num parque,com uma praça central e um jardim todo florido,lindo e multicolorido..Eu estava sentada no banco da praça quando ele chegou.Nos abraçamos,senti uma emoção indescritível.Ele me disse que há muito tempo tem dsesejado conversar comigo.No início,logo depois de sua morte física,ficou durante um tempo muito confuso e desorientado até entender a sua nova situação.Quando conseguiu se equilibrar,ficou muito preocupado ao perceber como nossa família estava sofrendo por causa dele e ele não podia fazer nada.Tentou várias vezes se comunicar conosco,mas era impossível.Todos nós estávamos tão fechados em nossa dor e revolta que qualquer canal de comunicação era impossível.Até você me abrir os olhos.Quando eu consegui me acalmar e abri meu coração para Deus e o entendimento,tudo aconteceu.
    -E o que ele falou?
    -De novo,você estava certo!Ele disse que o tempo dele já havia terminado aqui na Terra.Nada acontece por acaso,era mesmo a hora dele retornar a patria espiritual,sua missão aqui na Terra estava cumprida.A minha ainda não,eu ainda tinha tarefas a cumprir!Não importava o lugar que ele estivesse sentado naquele carro, estava programado que ele iria morrer naquele acidente,naquele dia.Se ele estivesse no banco do carona,provavelmente seria ali que o carro iria bater!Ele disse que o lugar aonde ele está agora é lindo e cheio de paz,e ele está felicíssimo,fazendo tudo o que gosta,estudando e se aperfeiçoando para evoluir cada vez mais espiritualmente.Só o que perturba a paz dele é nos ver infelizes.A nossa conversa aliviou muito o peso no  coração dele.Ele só sente  que papai e mamãe ainda não conseguiram se acertar e seguir em frente as suas vidas.Principalmente a mamãe.Ele tem tentado de todas as maneiras ajudá-la,mas está bem difícil. Ele não perde a esperança,parece que lá tem outros ajudando,como nossos avós,que estão  com ele.
    -Mas isso é maravilhoso!Olhe,apesar de minhas crenças,nada pode ser provado se você esteve realmente com ele ou se foi somente uma criação do seu inconsciente para resolver um conflito profundo!O que importa é que funcionou!
   -Criação do inconsciente?Você deve estar brincando!Eu ainda não terminei tudo!Eu poderia ter criado isso tudo na minha mente,baseado em lembranças da minha memória,mesmo a memória mais remota!Mas como entraram no meu sonho coisas que, tenho certeza, eu ainda não conhecia?Por exemplo,ele mandou meu pai doar todas as coisas dele,as roupas,os brinquedos,que estão intocadas dentro do quarto dele até hoje!E disse pra eu procurar algo dentro da sua escrivaninha,na gaveta da esquerda,dentro de uma caixa de madeira aonde ele colocava suas canetas de desenho, e aonde existe um fundo falso.Ele disse que dentro desse fundo falso estava o seu relógio de ouro ,que ele ganhou do meu pai quando fez 10 anos.Ele mesmo colocou esse fundo falso para escondê-lo,pois tinha medo que ele fosse roubado,e ele não queria guardá-lo no cofre junto com as jóias da mamãe,queria guardar o relógio no quarto dele,para poder pegar nele quando quisesse!Pois acredite,eu fui lá e encontrei o relógio,exatamente onde ele falou.Todos nós achávamos que o relógio havia sido roubado,na época em que a tragédia aconteceu,pois estávamos todos tão transtornados,que algum dos muitos empregados que já trabalharam lá em casa poderia ter se aproveitado do nosso descuido.Eu não fazia a menor idéia daquele esconderijo,ele morria de ciúme das coisas dele,e detestava quando alguém mexia nelas ,principalmente,eu!
    Orfeu ficou chocado com a revelação,mas ele era aquele tipo de pessoa que sempre tinha um lado materialista e cético que brigava com o seu lado que gostaria muito de acreditar na vida após a morte.
     -Realmente inacreditável,mas, ainda assim,existe a possibilidade de você ter sabido desse esconderijo de alguma maneira,mesmo que conscientemente,não lembrasse...
     -Calma aí,ainda falta uma coisa:eu não disse o motivo que fez  ele me mandar pegar o relógio!
     -E foi pra quê?
     -Ele me disse que queria que entregasse a uma pessoa:você!
     -E-e-eu???
     -Isso mesmo,você!Mandou agradecer muito por você ter me ajudado,disse que você não sabe o bem que fez a todos nós.Disse que esse relógio vale um bom dinheiro,talvez uns cinco mil reais,e você está precisando muito...Parece que é um negócio a respeito de uma cirurgia,eu acho,não com você,mas com a sua mãe.Sua mãe está doente?
    Orfeu sentiu como um soco na boca do estômago!Como é que ela poderia saber daquilo?Sim,sua mãe estava sofrendo há mais de 1 ano de cálculos na vesícula,com crises horríveis de dores e inflamações,mas não conseguia fazer a cirurgia de retirada,pois não tinha plano de saúde e os hospitais do SUS estavam sempre adiando a cirurgia,por falta de médico,falta de marterial,falta de luz...Uma tristeza!Ele vivia pensando como gostaria de ter dinheiro para pagar a cirurgia num hospital particular e livrá-la daquele tormento.Por Deus do céu!Seu lado cético acabara de ser nocauteado pelo seu lado espiritualista nesse momento.