quarta-feira, 6 de abril de 2011

The sound of music capitulo 6

"É como um sol de verão
Queimando no peito
Nasce um novo desejo
Em meu coração
É uma nova canção
Rolando no vento
Sinto a magia do amor
Na palma da mão
É verão!
Bom sinal!
Já é tempo
De abrir o coração
E sonhar..."



   Eurídice levantou-se junto com o sol.Correu para abrir a janela e saudar o astro-rei.Sentia-se leve como uma pluma.Precisava falar com Orfeu imediatamrente,senão seu coração iria explodir,então telefonou para ele.Ele atendeu.Já estava acordado,aprontando-se para ir para a faculdade.Combinou com ele de encontrarem-se no final da tarde,no calçadão,em frente a praia.Ele ficou surpreso de ela querer encontrar-se com ele ao ar livre,pois ela era uma das pessoas mais reclusas que ele conhecia.Achou um bom sinal.
   Eram quase 6 horas quando ele chegou e a encontrou sentada na mureta,olhando para o mar.
   -Desculpe o atraso,peguei um engarrafamento e... -  parou a frase no meio,boquiaberto,ao ver a inédita expressão de felicidade nos olhos dela.
   - Não tem a menor importância.Sinto agora como se tivesse todo o tempo do mundo a disposição na minha frente.Ou melhor,a nossa disposição!
   -O que houve?Conseguiu convercer-se de  que não é culpada de nada?Conseguiu se perdoar?
   -Melhor!Meu irmão me perdoou!Você tinha razão!Tive um sonho maravilhoso com ele!
   -Que fantástico,você conseguiu,então!Conte tudo,como foi?
   -Durante várias noites,antes de adormecer,eu pensava muito nele e pedia em oração que Deus permitisse que nós nos falássemos,pois precisava desesperadamente disso para sentir paz.E de alguma maneira,sentia que ele queria me falar também!Então,numa noite,sonhei que estava  como que num parque,com uma praça central e um jardim todo florido,lindo e multicolorido..Eu estava sentada no banco da praça quando ele chegou.Nos abraçamos,senti uma emoção indescritível.Ele me disse que há muito tempo tem dsesejado conversar comigo.No início,logo depois de sua morte física,ficou durante um tempo muito confuso e desorientado até entender a sua nova situação.Quando conseguiu se equilibrar,ficou muito preocupado ao perceber como nossa família estava sofrendo por causa dele e ele não podia fazer nada.Tentou várias vezes se comunicar conosco,mas era impossível.Todos nós estávamos tão fechados em nossa dor e revolta que qualquer canal de comunicação era impossível.Até você me abrir os olhos.Quando eu consegui me acalmar e abri meu coração para Deus e o entendimento,tudo aconteceu.
    -E o que ele falou?
    -De novo,você estava certo!Ele disse que o tempo dele já havia terminado aqui na Terra.Nada acontece por acaso,era mesmo a hora dele retornar a patria espiritual,sua missão aqui na Terra estava cumprida.A minha ainda não,eu ainda tinha tarefas a cumprir!Não importava o lugar que ele estivesse sentado naquele carro, estava programado que ele iria morrer naquele acidente,naquele dia.Se ele estivesse no banco do carona,provavelmente seria ali que o carro iria bater!Ele disse que o lugar aonde ele está agora é lindo e cheio de paz,e ele está felicíssimo,fazendo tudo o que gosta,estudando e se aperfeiçoando para evoluir cada vez mais espiritualmente.Só o que perturba a paz dele é nos ver infelizes.A nossa conversa aliviou muito o peso no  coração dele.Ele só sente  que papai e mamãe ainda não conseguiram se acertar e seguir em frente as suas vidas.Principalmente a mamãe.Ele tem tentado de todas as maneiras ajudá-la,mas está bem difícil. Ele não perde a esperança,parece que lá tem outros ajudando,como nossos avós,que estão  com ele.
    -Mas isso é maravilhoso!Olhe,apesar de minhas crenças,nada pode ser provado se você esteve realmente com ele ou se foi somente uma criação do seu inconsciente para resolver um conflito profundo!O que importa é que funcionou!
   -Criação do inconsciente?Você deve estar brincando!Eu ainda não terminei tudo!Eu poderia ter criado isso tudo na minha mente,baseado em lembranças da minha memória,mesmo a memória mais remota!Mas como entraram no meu sonho coisas que, tenho certeza, eu ainda não conhecia?Por exemplo,ele mandou meu pai doar todas as coisas dele,as roupas,os brinquedos,que estão intocadas dentro do quarto dele até hoje!E disse pra eu procurar algo dentro da sua escrivaninha,na gaveta da esquerda,dentro de uma caixa de madeira aonde ele colocava suas canetas de desenho, e aonde existe um fundo falso.Ele disse que dentro desse fundo falso estava o seu relógio de ouro ,que ele ganhou do meu pai quando fez 10 anos.Ele mesmo colocou esse fundo falso para escondê-lo,pois tinha medo que ele fosse roubado,e ele não queria guardá-lo no cofre junto com as jóias da mamãe,queria guardar o relógio no quarto dele,para poder pegar nele quando quisesse!Pois acredite,eu fui lá e encontrei o relógio,exatamente onde ele falou.Todos nós achávamos que o relógio havia sido roubado,na época em que a tragédia aconteceu,pois estávamos todos tão transtornados,que algum dos muitos empregados que já trabalharam lá em casa poderia ter se aproveitado do nosso descuido.Eu não fazia a menor idéia daquele esconderijo,ele morria de ciúme das coisas dele,e detestava quando alguém mexia nelas ,principalmente,eu!
    Orfeu ficou chocado com a revelação,mas ele era aquele tipo de pessoa que sempre tinha um lado materialista e cético que brigava com o seu lado que gostaria muito de acreditar na vida após a morte.
     -Realmente inacreditável,mas, ainda assim,existe a possibilidade de você ter sabido desse esconderijo de alguma maneira,mesmo que conscientemente,não lembrasse...
     -Calma aí,ainda falta uma coisa:eu não disse o motivo que fez  ele me mandar pegar o relógio!
     -E foi pra quê?
     -Ele me disse que queria que entregasse a uma pessoa:você!
     -E-e-eu???
     -Isso mesmo,você!Mandou agradecer muito por você ter me ajudado,disse que você não sabe o bem que fez a todos nós.Disse que esse relógio vale um bom dinheiro,talvez uns cinco mil reais,e você está precisando muito...Parece que é um negócio a respeito de uma cirurgia,eu acho,não com você,mas com a sua mãe.Sua mãe está doente?
    Orfeu sentiu como um soco na boca do estômago!Como é que ela poderia saber daquilo?Sim,sua mãe estava sofrendo há mais de 1 ano de cálculos na vesícula,com crises horríveis de dores e inflamações,mas não conseguia fazer a cirurgia de retirada,pois não tinha plano de saúde e os hospitais do SUS estavam sempre adiando a cirurgia,por falta de médico,falta de marterial,falta de luz...Uma tristeza!Ele vivia pensando como gostaria de ter dinheiro para pagar a cirurgia num hospital particular e livrá-la daquele tormento.Por Deus do céu!Seu lado cético acabara de ser nocauteado pelo seu lado espiritualista nesse momento.    

 

terça-feira, 5 de abril de 2011

The soud of music capitulo 5

"Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito...

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."

 
     




    

      Orfeu não sabia se estava mais chocado com a afirmação de Eurídice ,ou com a expressão de dor mais profunda que já presenciou na vida.
      -O que você está dizendo,Eurídice?Como assim o seu irmão morreu no seu lugar?
      -Faz muito tempo...Nós éramos crianças...Mas isso não me exime da culpa,não justifica a minha teimosia de menina mimada -ela fez uma pausa e suspirou fundo- Ele era meu irmão gêmeo,meu único irmão.Um doce de menino.Eu era a levada,a birrenta.Uma vez ,minha mãe foi nos levar de carro para uma festinha.Nós tinhamos 10 anos.Ele ia no banco da frente e eu atrás.Quando estávamos quase chegando,eu o fiz trocar de lugar comigo,pois queria parecer adulta na frente das minhas colegas,e não uma criancinha que só podia ir no banco de trás.Ele não queria,mas eu insisti tanto que ele cedeu,e trocou de lugar comigo,com o carro em movimento.Mal ele se sentou,um motorista bêbado avançou o sinal vermelho num cruzamento,acertadndo nosso carro em cheio na parte traseira,esmagando-a contra um caminhão.Somente ele morreu,nós sobrevivemos para lembrar dessa cena horrível.
    -Minha querida,você não teve culpa nenhuma,como você poderia saber?
    -Ele era o filho perfeito,obediente,calmo,bom aluno.Mesmo que eles não admitam,meus pais preferiam que eu tivesse morrido,não ele.Minha mãe caiu em depressão profunda,e até hoje,alterna períodos de internação em clínicas psiquiátricas e clínicas de desentoxicação para viciados em anagésicos e calmantes.Meu pai,se enfurnou do escritório.Só pensa em trabalhar sem parar.Eu quase não os vejo.e acho que elas não desejam mesmo me ver,não me suportam.Eu lembro a eles o que eles perderam.É como eles tivessem morrido também.Sabe o que ele quer fazer comigo agora?Quer se livrar o mais rápido possível da minha presença,me casando com o seu funcionário puxa-saco número um,Rodolfo,meu ex-noivo.
    -Você era noiva?
    -Tenho bons motivos para tê-lo transformado em ex.Ele é um mau caráter interesseiro,que só sabe pensar em si mesmo.Tentei mostar a verdade para o meu pai,mas ele está tão cego pela vontade de me descartar,que não consegue ver mais nada.O pior é que não tenho provas concretas,mas tenho certeza absoluta que o amor que o Rodolfo diz que sente por mim é  pura falsidade e interesse.Meu pai vive armando situações que me façam encontara com ele,mas não adianta.Durante algum tempo ele conseguiu me enganar,ams agoara,não mais!
    -Eurídice,em primeiro lugar,vou dizer o que eu acho,baseado no que eu acredito.Apesar de não ter nenhuma religião,cheguei a algumas conclusões baseadas em coisas que eu li e vivenciei.Em primeiro lugar,acredito que a vida não termina com a morte do corpo físico.A alma é imortal.E que todos nós temos que cumprir algum tipo de aprendizado aqui naTerra,e para depois voltar a verdadeira vida,que é a vida  espiritual.Quando esse aprendizado termina,é a hora de retornar.Só Deus sabe quando é a hora,nós não temos esse poder.Se realmente fosse a sua hora de ir ,você teria ido e não ele.Ele foi porque o tempo dele terminou e o seu não.
   -Não é verdade...Se eu não tivesse feito ele mudar de lugar...Não consigo deixar de me lembrar de como fui chata e persistente...Anos de terapia e remédios não conseguem fazer eu me perdoar.Como eu gostaria de pedir perdão a ele...
   -E por que não pede?
   -Eu já pedi milhares de vezes,mas como vou saber se me perdoou?Ele não está aqui para responder,pra eu olhar nos seus olhos!Eu não o perdoaria,se estivesse no lugar dele.
   -Espere!Talvez você consiga ir aonde ele está.
   -Ah,não me diga para ir numa sessão espírita!Tenho pavor dessas coisas!
   -Não,não precisa fazer isso!Olhe,eu já li que quando sonhamos,nosso espírito pode viajar e encontrar com os entes queridos já falecidos.Já ouvi falar de muitas histórias de pessoas que se encontararam com parentes, conversaram,discutiram,até resolveram pendências de família!Olhe,e se você olhar pelo lado psicanbalítico da coisa,pode haver uma explicação científica apara isso.Freud disse que todo sonho é a realização de um desejo.Pode ser que esses sonhos sejam na realidade fabricados pelo nosso inconsciente.Mas mesmo que seja,é no inconsciente que resolvemos os nossos maiores conflitos,talvez isso seja bom de qualquer jeito para você!
    -Bem que eu gostaria de sonhar com ele!Sonhei algumas vezes com ele,mas foram sonhos confusos,angustiantes.Depois os sonhos desapareceram.Como eu faria para sonhar de novo?Não temos como controlar isso!
   -É muito simples:peça!Antes de dormir,faça uma oração.Nada acontece sem o consentimento de Deus.Peça com fervor,com sinceridade.Se for da vontade de Deus,ele permitirá.
    -Depois de tanta desgraça que aconteceu na minha vida,fiquei meio cética.Mas estou tão desesperada ,há anos que parece que todo o peso do mundo nas minhas costas!Estou apelando pra qualquer coisa!
    -Desse jeito,não vai dar certo.Você vai ter que reencontrar a sua fé e restabelecer de novo o seu contato com Deus.Agora eu preciso ir-deu um beijo na testa e secou com os dedos as suas lágrimas.
    Deixou Eurídice imersa em seus pensamentos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

The sound of music - capítulo 4

"Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome prá poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz"

 





   Orfeu achou que a casa dela parecia um castelo,e ela bem poderia ser uma princesa solitária no alto da torre.Coincidência ou não,o quarto dela era lá no alto,no último andar conforme o empregado que o recebeu no suntuoso hall de entrada indicou para ele."Ela vai ter aulas no quarto?",pensou ele,e achou meio inadequado.Mas quando chegou,percebeu que o quarto dela tinha uma antessala,como se fosse um pequeno escritório particularQue chique!.Ela ainda não estava,mas mandaram que aguardasse.Eram mais de nove horas da noite.Ele só podia chegar nesse horário,após as aulas que dava na Escola de Múcica,mas ela parecia não se importar.Ele deu uma espiada.Havia uma estante,cheia de livros e fotos.Algumas fotos na parede,uma escrivaninha e duas poltronas.Entre as poltronas,uma pequena mesinha com um porta retratos.Não resistiu e pegou-o para examinar melhor.Havia uma menina loura de cabelos cacheados,um menino,também louro,mais ou menos da mesma idade,muito parecido com ela,com o mesmo sorriso luminoso.Colocou rapidamente de volta na mesa,quando ouviu passos se aproximando.Ela saiu pela porta interna,vinda do quarto.
    -Oi,desculpe-me fazê-lo esperar-ela tinha um violão nas mãos.
    -Oi!Não se preocupe,acabei de chegar.Vejo que comprou seu violão.
    -Pois é,você gostou?Essa marca é boa?
    -É ótima,uma das melhores-"Deve ter custado o equivalente a  uns dois meses de salário meu",pensou ele.-Vou afinar ele para você.
     Ele começou a afina-lo e ela o olhava,fascinada.Para testar a afinação,ele dedilhou algumas músicas.Depois de pronto, entregou-lhe de volta.
     -Ah,por favor,toque mais um pouco...
     -Mas eu pensei que era pra você tocar,não eu.
    -Claro,claro,desculpe-respondeu,sem graça-Mas,gostaria muito de saber como aprendeu a tocar assim tão bem.
     -Bem,na verdade,aprendi por erros e acertos,sozinho,dando cabeçadas e desafinadas por aí.
     -Nossa!Um autodidata,um talento nato!
     -Nem tanto,nem tanto.Foi só no início.Depois entrei pra faculdade e me aprimorei.Ainda estou me formando,na faculdade de música.Então,vamos começar?
      Eurídice bem que tentou,mas não tinha o menor jeito.Suas notas saíam pior que uma unha raspando num quadro negro.Era de arrepiar,no sentido ruim.Orfeu procurava estimulá-la,mas ,com o passar das aulas e tentativas,as pontas dos dedos dela começaram a ficar machucadas e doloridas.Na verdade,ela estava detestando as aulas,mas,amando o professor.Um dia,ele chegou sem o violão dele.
      -Cadê o seu violão?
      -Fui assaltado no ônibus.Mas,não tem problema,a gente pode fazer a aula só com o seu.
      No final da aula,Eurídice deu o seu violão para ele.Ele não quis aceitar de jeito nenhum.
      -Aquele violão estava velho mesmo,eu já ia comprar outro.
      -Mas você disse que esse aqui é muito bom,uma das melhores marcas.é uma pena ficar sem uso.
      -Como assim,sem uso?Você não vai mais usá-lo?Posso saber por que?
      Eurídice olhou para baixo,embaraçada.
      -Estou desistindo de tenta tocar.Meus dedos estão doendo e todos machucados.E ,além do mais,nós dois sabemos que eu não tenho o menor talento...
      -Mas isso pode ser trabalhado,você sabe...
      -Não,eu achei que,como gosto muito de música,talvez pudesse me encontrar em uma carreira musical.Mas, tudo que encontrei foi uma trapalhona descoordenada e desafinada..Mas isso não é novidade para mim,eu já tentei tantas coisas,tantas carreiras,tantas faculdades.Nada deu certo.Acho que não presto pra nada mesmo...
       Orfeu não sabia se sentia tristeza,por ver uma moça tão linda e inteligente  falar de si mesma com tanto desalento,ou se sentia alegria por ela deixar de ser sua aluna.Afinal,isso diminuiria a distância entre eles,talvez se abrisse um caminho para uma relação mais próxima."Não seja imbecil!Até parece que ela ia querer alguma coisa com um feio,desajeitado e pé-rapado como você!Além do mais ela está desistindo das aulas,não existe mais motivo para continuar a vê-la!Ela está te dispensando,e o violão é o prêmio de consolação!"
       -Então,está bem-ele disse-eu vou indo então.Eu aceito o seu violão,emprestado.Até eu comprar um novo,está,bem?Vou mandá-lo de volta,assim que puder,eu deixo na portaria da sua casa.
       -Eu já disse que não quero o violão de volta.Mas não quero que você vá embora.Descobri que o que mais gostava nas aulas,era ouvir você cantando.Você não poderia vir apenas para cantar para mim?Eu continuo pagando,como se fosse uma aula!
      -Eurídice,mas isso é um absurdo!
      -Eu pago em dobro!A sua música me fez mais alegre que todos os anos de terapia e todos os quilos de antidepressivo que eu já tomei na vida!
      -Não posso aceitar.
      Ela baixou os olhos,que pareciam sintetizar toda a tristeza do mundo.Orfeu levantou o seu rosto,tocando o seu queixo com a ponta dos dedos,e disse:
      -Não existe nada no mundo que eu deseje mais do que tocar e cantar´para você ,e ver você suspirar e sua face se iluminar.Mas não como um empregado.Se você me pedisse para continuar vindo,como um amigo,eu o faria com o maior prazer.
      -Jura?Quer ser meu amigo?Não acredito!Você vai acabar sumindo,como todos os outros!Ninguém aguenta ser meu amigo por muito tempo!Todos me acham chata,nerd,antipática,soturna...Quando era adolescente,meu apelido era Wandinha da família Adams-ela falava em tom de sarcasmo,mas ele podia sentir uma mágoa profunda.
      -Ei,ei,o que é isso?Não acredito que exista uma pessoa no mundo que não deseje fazer parte da sua vida!
       -Você não sabe o está falando|Tudo na minha vida é um erro!-agoara chorava abertamente-Nada nunca deu e nem vai dar certo.E sabe o motivo?Eu não devia estar aqui,eu estou no lugar de outra pessoa,que morreu no meu lugar!Era ele que os meus pais queriam que estivesse vivo,não eu!
      -Ele quem?
      Ela pegou o retrato sobre a mesinha e apontou,com os dedos trêmulos:
      -Ele!Este aqui,o meu irmão!


                                                        (continua...)
       
      -



domingo, 3 de abril de 2011

The sound of music - capitulo 3

"Fonte de mel
Nos olhos de gueixa
Kabuki, máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol
A sua coisa é toda tão certa
Beleza esperta
Você me deixa a rua deserta
Quando atravessa
E não olha pra trás"

                                                                                                                        
 

        Orfeu não sabia por que começou a cantar essa música.Não estava na lista de pedidos  dos frequentadores do bar naquela noite.Ok,no fundo ele sabia muito bem.Foi por causa daquela moça de olhar triste que tinha entrado há cerca de meia hora.Que criatura intrigante.Ao mesmo tempo que tinha um porte altivo,quase orgulhoso,sua expressão mostrava justamente o contrário.Parecia deslocada ali.E ele tinha impressão que se sentia deslocada aonde quer que estivesse.Vestia-se de maneira simples e discreta,um vestido azul,que fazia lindo contraste com seus cabelos muito loiros.Por isso lembrou da música:"choque entre o azul e o cacho de acácias...".Ela se sentou próxima ao palco,e ele pode ver que ela era loira de verdade,pois as sombrancelhas e até os cílios eram loiros.A pele clara era quase translúcida,coberta por delicadas sardas transparentes.Mesmo se fosse um pintor talentoso,não se acharia capaz de pintá-la em toda sua beleza.A cor dos olhos era difícil de definir,pois estavam semicerrados,e ela parecia pensativa.Em que estaria pensando?
        Talvez ele se surpreendesse ao saber quais eram os pensamentos de Eurídice.Ela se sentia tão feliz e relaxada, como nunca esteve na vida.Ali,olhando para aquele rapaz com cabelos escuros caindo sobre a testa,e voz de veludo.Não se sentia sobrando,como sempre,mas no lugar certo,na hora certa.Seu coração parecia ter criado asas e viajava na sua música.Mal se deu conta de que as pessoas já estavam se retirando,e o show já terminara.Era dia de semana e tinham que trabalhar amanhã de manhã cedo.Acordou como de um sonho dourado e caiu na escura realidade.Gostaria de ter um trabalho,algum lugar para ir no dia seguinte,uma desculpa para não estar em casa.Mas não adiantava,ela não se encaixava em nada,nenhum trabalho,nenhuma faculdade,nada tinha dado certo pra ela.Algumas vezes chegou a pensar que teria sido melhor que ela nunca houvesse existido.Todos teriam sido mais felizes.Seu irmão não teria morrido.
      Orfeu estava guardando as suas coisas e estava  a ponto de ir despertá-la.Achou que ela tivesse adormecido.Mas ela levantou-se subitamente e fez menção de ir embora.Quando chegou perto da porta,pareceu ter se arrependido e voltou.
      -Não posso deixar de vir cumprimentar um artista tão talentoso-disse ela cumprimentando-o.Estendeu a mão e ele apertou-a.Foi sacudida por uma estranha sensação.A sensação de uma pessoa que andou muito,por muito tempo , esteve por diversos lugares  e, finalmente ,chegou em casa.Soltou a mão rapidamente.-Dizem que se reconhece um grande cantor quando ,para cada pessoa que o está ouvindo,existe a sensação de ele está cantando especialmente pra ela.
     "Você não sabe o quanto está perto da verdade",pensou ele.Mas tudo que ele pôde dizer foi um tímido"Obrigado".Estava tomando coragem para cortejá-la,quando ela disse:
     -Na verdade,eu estive na escola de música hoje.Queria me inscrever na suas aulas,mas a moça da secretaria me disse que tinha que falar com você primeiro.Eu iria falar com você amanhã,mas já que estou aqui...
      "Droga-pensou Orfeu-não quero que você seja minha aluna!"Tinha por princípio não se envolver com alunas,pois já tida tido experiências que não deram certo,não queria mais misturar as coisas.
       -Qual é o seu nome?
       -Eurídice.
       -Querida Euridice,ela deve ter dito a você que as turmas já estão lotadas.O excesso de alunos atrapalha a didática da coisa,entende?E não posso abrir exceções,você sabe,senão vou ter que fazer isso com as outras pessoas também.
       Ele pareceu sentir uma faca gelada se enfiando no seu coração, por ter provocado aquela expressão de decepeção profunda no rosto de anjo dela.Chegou a achar que os olhos dela encheram-se de lágrimas."Eu sou mesmo um monstro!Dane-se essa droga de didática e o que os outros vão dizer!"Ia abrir a boca dizendo que mudou de idéia,mas ela falou antes:
     -E aulas particulares?E-e-eu posso pagar.Posso ir na sua casa ou você ir na minha.Por favor?
     Ir na casa dele?Acho que ela não sabia o que estava dizendo.A casa dele era tão superlotada,que ninguém conseguia respirar fundo ao mesmo tempo.Eram ele,a mãe e cinco irmãos numa casa de 3 cômodos.
     -Bem,eu não tenho muito horario disponível. e na minha casa não vai ser possível,teria que ser na sua.E  eu só posso á noite...deixe ver...Segunda e quarta,pode ser?
     -Claro,pra mim,está perfeito!!Vou te dar meu endereço,podemos começar nessa segundo agora?
     -Mas você não vai me perguntar quanto é que eu cobro por aula?E violão,você tem algum?
     -No dia da aula você me diz o preço!E ,quanto ao violão,vou comprar um amanhã mesmo.-entregou-lhe o bilhete com o seu endereço e telefone-Você não sabe como alegrou o meu coração! -  e deu-lhe um beijo estalado no rosto,saindo saltitante pela porta.
     O coração de Orfeu saiu da temperatura da faca gelada para a temperatura da ebuliçao.Do aço.Ele pôde ver perfeitamente a cor dos seus olhos quando ela se aproximou para beijá-lo.Eram dourados como o sol.Respirou fundo e olhou o seu endereço.Não era a toa que não se preocupava com o preço das aulas.Dinheiro não devia ser problema para ela.Era numa das ruas onde moravam as pessoas mais ricas da cidade.
                                     (continua)